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31/1/2015 07:39

Feliz na segundona inglesa, Gomes limita opções para retornar ao Brasil

Goleiro revela sonho de voltar ao Cruzeiro, diz que defenderia apenas seis clubes brasileiros, e elogia competição na Inglaterra, Gareth Bale e Dunga na Seleção

- Desculpe o atraso, estava fazendo uma sessão extra depois do treinamento, não sou mais um menino...

Foi com simpatia que o goleiro Gomes recebeu a equipe do GloboEsporte.com, no centro de treinamentos do Watford, equipe do norte de Londres e que luta na atual temporada pelo retorno à Premier League, a primeira divisão do Campeonato Inglês.

Conversar com o ex-goleiro de Cruzeiro, PSV e Tottenham é uma aula sobre futebol europeu. Aos 33 anos, sendo 11 no Velho Continente, esse mineiro da pequena João Pinheiro é um cidadão do mundo.

Tanto tempo no exterior lhe rendeu não apenas uma condição de vida estável. Além disso, sua família está plenamente adaptada à vida na Inglaterra, onde ele acabou de receber a cidadania britânica, o clube tem um projeto de futebol que o agrada e a vida em uma cidade com segurança são os aspectos que fazem com que Gomes limite suas opções para um eventual retorno ao Brasil: seis clubes, aponta ele.

-Isso não é bom. Infelizmente, enquanto não mudar a mentalidade das pessoas que realmente estão a frente dos clubes, nenhum jogador que está aqui na Europa quer voltar. Hoje estou muito melhor preparado para voltar, tem que ser um clube com projeto para me fazer largar tudo que tenho aqui.

Fundado em 1881, o Watford conta com um presidente de honra bastante peculiar. O cantor Elton John tornou-se acionista majoritário em 1976 e conduziu o time da quarta até a primeira divisão em apenas quatro anos e foi vice-campeão em 1983. Mesmo longe dos holofotes da Premier League, Gomes exalta a segundona inglesa:

- O nível técnico da segunda divisão inglesa é muito alto. Aqui, como no futebol brasileiro, é difícil dizer quem vai ganhar. É um futebol muito forte e globalizado. Em alguns aspectos é muito melhor estar aqui do que no Brasil. Para se ter ideia, nossa média de público [da segunda divisão] é de 17 mil pessoas. (O Brasileirão de 2014 teve média de 16.555, segundo divulgação dos borderôs das partidas).

Contratado na última janela de transferências, o goleiro superou um período de dois anos de instabilidade no Tottenham, depois de uma polêmica com o ex-treinador dos Spurs Harry Redknapp e um empréstimo para o Hoffenheim, da Alemanha. Hoje é titular e líder dos "Hornetts", atual sexto colocado da Championship, a segundona.

Gomes, um dos goleiros do Brasil na Copa de 2010, falou abertamente sobre diversos temas: Paulinho no Tottenham, a ascensão de Gareth Bale, o retorno de Dunga à Seleção e o olhar de um "estrangeiro" sobre o futebol brasileiro.

Confira a íntegra da entrevista:

O que é melhor, jogar a segunda divisão inglesa, ou retornar ao futebol Brasileiro?
Muito complicado falar sobre isso, depende do clube no Brasil. Para falar a verdade, a segunda divisão inglesa é bem disputada e organizada, em um jeito típico inglês. Em muitos aspectos é melhor que o futebol brasileiro. Estou me sentindo muito bem jogando na segunda divisão. É claro que o futebol brasileiro tem um sabor especial, até porque eu sou brasileiro. Tive a oportunidade de jogar lá por pouco tempo, sinto saudade, porque não aproveitei tanto. Ganhei tudo em um curto espaço de tempo com o Cruzeiro. Seria bom retornar, se aparecer algo interessante, mas eu estou muito satisfeito aqui na Inglaterra.

Quais clubes brasileiros te fariam pensar num retorno ao Brasil?
Apenas seis clubes. Enquanto não mudar a mentalidade das pessoas que fazem o futebol brasileiro, acho que nenhum jogador que está na Europa quer voltar. (Para clubes de) Minas, São Paulo e Rio Grande do Sul eu diria: é a hora de voltar após 11 anos de Europa. Se um desses clubes me ligar ou fizer uma proposta, hoje estou muito mais preparado do que há dois anos. Mas tem que ser um desses clubes para que eu largue tudo isso daqui. Não é porque eu sou cruzeirense, mas os dois de Minas estão mostrando que organização pode se transformar em conquistas. Esses dois clubes de Minas estão na frente dos outros. Claro que em São Paulo também tem times com essa mesma organização, mas infelizmente há outros que deixam a desejar. Infelizmente, o futebol do Rio não é aquele que te telefonaria e você diria "poxa, é a hora de ir". Você vê o Botafogo, um clube de história, na segunda divisão. O Jefferson, goleiro da seleção brasileira, tendo que jogar uma segunda divisão. Não por ele, mas pela má administração do clube.

O que mudou na sua vida desde que deixou o Cruzeiro em 2004? Imaginava passar tanto tempo longe do Brasil?
Nunca sonhei estar no estágio de vida que estou hoje. Sou um cidadão britânico, minha família toda, meus filhos estão recebendo educação inglesa. Posso dar o melhor para eles, principalmente os estudos. Conquistei vários títulos na carreira depois do Cruzeiro, quatro vezes a Liga Holandesa com o PSV, tive a oportunidade de jogar a Premier League com o Tottenham. Chegamos até as quartas de final da Liga dos Campeões depois de 40 anos sem a participação da equipe no torneio.

Você acompanhou de perto o surgimento do Gareth Bale para o futebol. Ele já era diferenciado desde as categorias de base?
Desde que cheguei. Ainda tinha a companhia do Gilberto, lateral-esquerdo, já dava para perceber que ele era diferente. Foi na minha primeira temporada com o Harry Redknapp, o treinador da época. Ele iria emprestá-lo porque não era nem relacionado para os jogos. Nosso lateral se lesionou, ficou por algumas semanas fora e a gente não tinha ninguém para a posição. O Bale foi colocado para jogar na lateral esquerda e arrebentou. Quando o titular retornou, o único lugar que tinha espaço era de ponta-esquerda. Ele sempre treinou bem, sempre foi diferenciado. Não houve nenhuma super valorização dele. Merece todo o sucesso que está tendo no Real Madrid.

Harry Redknapp foi o responsável pela sua saída do Tottenham?
Ele foi responsável por me colocar no banco de reservas e não voltar mais. No final da temporada, o goleiro titular falhou em um jogo contra o Queens Park Rangers, ele veio conversar comigo dizendo que precisava que eu jogasse porque era o melhor goleiro do clube. Eu disse que não podia fazer aquilo, naquele momento. Iria ser um desrespeito com o titular, somente por uma falha, e eu não estava disposto a fazer isso. Não voltei mais. Isso já passou e eu estou muito feliz onde estou hoje.

Por que o Julio César não conseguia jogar no QPR, também com Redknapp?
Eu não sei o que aconteceu, tive o mesmo problema com o treinador, que era o técnico do Julio no QPR. Ele teve problemas para jogar na segunda divisão. Eu não sei a razão dele, talvez ele não goste de goleiros brasileiros. Quando o Julio César chegou, ele estava jogando muito bem e foi deixado de lado de uma hora para a outra.

Paulinho está com dificuldades no Tottenham depois de um começo bom. Coisas do futebol, ou no Tottenham é mais complicado?
O futebol inglês é muito diferente do Brasil, não existe espaço. Ele chegou muito bem, até ter uma lesão. Foi aí que ele começou a cair de rendimento, talvez por voltar precocemente. Até mesmo antes da Copa do Mundo, ele fez muitos jogos. A troca do André Villas-Boas pelo Tim Sherwood já modificou a sequência de jogos. Agora com o Pochettino também não está fácil, todos jogadores tiveram chance de jogar na Premier League, e ele foi o único que não teve chances. Quando ele joga, como no jogo contra o Chelsea, ele vai bem.

O que achou do retorno do Dunga à Seleção?
Muito bom, ele não devia ter saído. Depois da Copa em 2010, o clima estava pesado para ele. Mas é um cara que coloca ordem na casa. Ainda é precoce analisar, mas a equipe já tem um formato. Ele é um vitorioso, já esteve dentro de campo, conhece a Seleção. Com certeza vai dar certo.

Fábio é titular do Cruzeiro há anos e mantém regularidade acima da média, mas nunca é lembrado para a Seleção.
Acho que ele teve falta de sorte, é difícil para o treinador ficar trocando os goleiros. É como se diz na gíria popular, goleiro é cargo de confiança. O Fábio é um grande jogador, fez e está fazendo história no Cruzeiro, mas precisamos entender que o Brasil tem uma safra muito boa de goleiros de alto nível, como o Fábio.

Tem acompanhado de longe a boa fase do Cruzeiro? Quer encerrar a carreira lá?
Quando saí do Cruzeiro sempre falava que iria encerrar minha carreira lá. Mas, hoje o Fábio é dono da posição e quero voltar jogando, não quero voltar para ser o reserva dele. Eu o admiro muito como goleiro, por isso não quero passar por essa situação, mas o Cruzeiro foi onde minha história começou, tudo aconteceu em muito pouco tempo. Se um dia eu tiver essa chance de voltar, jogando ou em outro cargo, seria um grande prazer.

3588 visitas - Fonte: Globoesporte.com




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