logo

11/12/2014 14:39

Marcelo Moreno, o homem de 500 mil reais

Marcelo Moreno segue artilheiro. É bom, não excelente. Quando a bola não entra, todos se lembram do quanto ganha. Um jogador refém do próprio salário

Marcelo Moreno, o homem de 500 mil reais
Moreno não tem a bola competível com seu salário | Crédito: Washington Alves/Getty Images

É preciso conversar um bom tempo com Marcelo Moreno Martins até que se perceba algum traço gringo. Seu português é perfeito, quase sem acento castelhano. Ele nasceu em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, mas é tão brasileiro quanto você ou eu.

Talvez até um pouco mais, afinal nem eu nem você jogamos na seleção brasileira. Ele já. Filho de um brasileiro radicado na Bolívia que se casou com uma boliviana, Marcelo aos 17 anos fez sua primeira opção de nacionalidade.

Decidiu jogar pelo Brasil no sub-18 e se tornou o primeiro “estrangeiro” a jogar por uma seleção brasileira de base. Seguiu no time do sub-20 e aí mudou de ideia. Sentindo que a chance de se destacar seria maior se optasse pela nacionalidade boliviana, trocou a camisa amarela pela verde de seu país natal. Ele começava a se destacar no futebol brasileiro. Velocidade, cabeçada eficiente, chute forte com as duas pernas.

Qualidades não lhe faltavam. Após o início no Oriente Petrolero-BOL, ele foi contratado pelo Vitória e despertou a atenção dos dirigentes mineiros. No Cruzeiro, nas temporadas 2007/2008, virou ídolo da torcida. Não houve como segurá-lo em Belo Horizonte. Shakhtar Donetsk, da Ucrânia. Werder Bremen, da Alemanha. Wigan, da Inglaterra. Mais um sul-americano fazendo aquela trajetória de sempre.

Uma das escalas do rolê gringo foi no inglês Wigan | Crédito: Getty Images

Moreno encheu os bolsos de dinheiro, marcou seus gols, teve altos e baixos. Em um desses baixos, no ano de 2012, voltou para jogar no Grêmio. Foi emprestado para o Flamengo e “reemprestado” para o Cruzeiro. Nem sempre jogou bem, algumas vezes trocou o dia pela noite, mas nunca deixou de fazer seus golzinhos. Em 2012, por exemplo, foram 23 em 57 jogos. Média boa, de artilheiro, meio gol por jogo. No Flamengo piorou, mesmo assim ainda marcou cinco gols em 21 jogos. E agora, no Cruzeiro, está de novo na sua média de um gol a cada dois jogos. Em um país que parou de gestar artilheiros, ter um Marcelo Moreno para chamar de seu deveria ser uma vantagem. Mas não é.

Nem Cruzeiro nem Grêmio parecem muito dispostos a ficar com o artilheiro. Marcelo Moreno não é um Romário, um Careca. Está longe de ser um Bizu, um Obina. Deveria ser mais valorizado. E não é.

O motivo tem menos a ver com o departamento técnico, mais a ver com a tesouraria do clube. Seus vencimentos mensais estão na faixa dos 500.000 reais. Marcelo Moreno é refém de seu próprio salário. Todas as suas últimas transferências estão diretamente ligadas a esse numerinho, quer dizer, numerão. Os clubes que precisam de gols o contratam e logo percebem que ele é bom, não excelente. Esse é um problema recorrente no futebol. A supervalorização do jogador acaba criando um drama para ele mesmo.

Opção pela Bolívia, terra da mãe | Crédito: Getty Images

Há inúmeros casos semelhantes. Emerson Sheik, Valdívia, Alexandre Pato, Dida, todos bons jogadores. Na relação custo-benefício, porém, se mostram um estorvo para os clubes. A conta bancária deles agradece, mas o salarião acaba se tornando um fardo. Moreno é constantemente avaliado, julgado e condenado pelo que ganha. Não pelo que joga. Ele é bom, útil, os últimos títulos do Cruzeiro foram conquistados com gols seus. Alguns muito importantes, aliás. Só que são gols caros.

A temporada 2015 vai começar e Marcelo Moreno será colocado numa vitrine. Os clientes passarão na frente, vão querer levá-lo. Aí farão contas, verão que é uma extravagância pagar um salário excelente por alguém apenas bom. Em um delírio consumista, um dirigente mais afoito passará o cartão e fará o negócio por impulso. E depois vai se arrepender, tem sido assim na vida de Moreno.

A saída seria o próprio jogador arrancar a etiqueta do pescoço e grudar uma outra dizendo “liquidação” — ou “sale”, como nas lojas mais chiques. Se recebesse um salário proporcional ao que produz, Marcelo Moreno seria valorizado, aplaudido. Sua autoestima, quem sabe, subiria. É difícil imaginar que isso possa acontecer. Ninguém aceita ganhar menos, mesmo que isso signifique mais coerência e felicidade.

Enquanto isso, Marcelo Moreno vai convivendo com o elogio no dia do gol e com o “mercenário” vindo da arquibancada no domingo em que a bola não entra.

2004 visitas - Fonte: Placar




Nenhum comentário. Seja o primeiro a comentar!

Enviar Comentário

Para enviar comentários, você precisa estar cadastrado e logado no nosso site. Para se cadastrar, clique Aqui. Para fazer login, clique Aqui.

Brasileiro

Sáb - 21:00 - Arena MRV -
X
Atletico-MG
Cruzeiro

Brasileiro

Qua - 20:00 - Governador Plácido Aderaldo Castelo
1 X 1
Fortaleza EC
Cruzeiro