Uma das maiores preocupações da torcida do Cruzeiro para a final da Copa do Brasil, na quarta-feira, contra o Atlético-MG, é a condição física do time. O excesso de jogos corridos, a grande maioria com os titulares, causou um desgaste ao elenco, que já disputou 73 partidas neste ano. O rendimento de alguns jogadores caiu nas últimas partidas, o que não impediu a equipe de conseguir uma inédita sequência de cinco vitórias neste Brasileiro, justamente na reta final.

O contraste entre o cansaço com os jogos contra Santos, Grêmio e Goiás e a tranquilidade do Atlético-MG, que poupou muitos titulares nas últimas semanas, não preocupa a comissão técnica do Cruzeiro. Os profissionais apostam no trabalho feito ao longo da temporada e em um fator extra: a motivação. Para o fisiologista Eduardo Pimenta, os jogadores azuis vão compensar qualquer desgaste com um imenso desejo de vencer o rival e conquistar o pentacampeonato da Copa do Brasil.

- O futebol é um esporte que permite estas situações. Mesmo que o atleta esteja numa situação de desgaste ou fadiga, que faz parte do alto rendimento em uma partida de futebol, existe o fator motivacional. Em relação ao desejo humano, não há regra no mundo que possa medir isso. Eu posso estar só com uma perna, mas, se quero aquilo, vou tirar forças de qualquer lugar para conseguir. Esta é uma fala não científica, mas a vontade humana não foi estudada. Esse fator de motivação, de desejo, de querer buscar o título pode contribuir para compensar esse desgaste acumulado, que não está acontecendo com o Atlético-MG.

O preparador físico Juvenilson de Souza concorda. Segundo ele, dos quatro aspectos responsáveis pela performance de um jogador em campo, o emocional é tão importante quanto o físico, o tático e o técnico.

- O importante é que nossos atletas saibam o valor do jogo. É uma final, e você sempre tem um algo a mais, uma reserva. Nossos atletas estão muito motivados, principalmente depois de uma conquista como esta, que valoriza nosso trabalho e nos dá um ânimo ainda maior. Nosso time tem mostrado que está se superando e resistindo aos jogos. Temos como exemplo as viradas em jogos difíceis, contra adversários menos desgastados, que tiveram um número menor de jogos. Estamos vencendo com consistência. Tudo isso é indicativo de que o Cruzeiro está bem preparado.

Temporada desgastante e recuperação

Eduardo Pimenta e Juvenilson de Souza ressaltaram a dificuldade causada pelo calendário do futebol brasileiro nesta temporada. O recesso de 45 dias no Brasileirão para a disputa da Copa do Mundo apertou ainda mais as competições, aumentando a média de jogos por semana de todos os times. Para o Cruzeiro, que disputou a Libertadores até as quartas de final, chegou à decisão da Copa do Brasil e usou o time titular em quase todas as rodadas do Brasileirão, a situação ficou ainda mais difícil.

O fisiologista Pimenta explicou a importância de recuperar bem os jogadores de um jogo para o outro e disse por que o Atlético-MG levou vantagem neste aspecto nos últimos meses.

- Se estou treinando muito, a recuperação assume uma importância imensa no dia a dia. Nosso time principal hoje praticamente só joga e recupera. Por isso, o clube está investindo muito em técnicas de recuperação. E vai investir mais ainda porque esse grande número de jogos é uma realidade no futebol mundial. Só que isso gera um acúmulo, que vai aumentando durante o ano, por mais que a gente estabeleça técnicas de recuperação. Este é o maior desafio. O Atlético-MG conseguiu recuperar porque teve tempo para isso. Só que a nossa vontade provavelmente vai fazer isso se igualar.
Para Juvenilson, o tempo curto entre um jogo e outro é o principal fator do desgaste dos atletas. Ele acha que o Cruzeiro conseguiu administrar bem a questão, o que foi refletido no bom desempenho e na conquista antecipada do Brasileirão.

- Uma das atribuições da fisiologia, da preparação física e do departamento médico é trabalhar intensamente na recuperação dos atletas, especialmente nos períodos de pré-temporada e intertemporada, dando uma base muscular, para que o Marcelo tivesse o time por mais tempo à sua disposição. Quando você muda os atletas, perde o entrosamento. Como o Marcelo teve a felicidade de repetir o time, isso trouxe maior entrosamento e nos levou às vitórias que nos permitiram conquistar o Campeonato Brasileiro.

Mesmo entrando em campo em desvantagem, já que perdeu o primeiro jogo da decisão da Copa do Brasil para o Atlético-MG por 2 a 0, Eduardo Pimenta acredita que o Cruzeiro conseguirá virar a situação para sair de campo, quarta-feira, com o título. Segundo ele, vontade não vai faltar.
- É possível. Para a vontade humana não há regra nem limite. O Cruzeiro vai entrar bem motivado.