logo

24/11/2014 21:55

Goulart em cinco atos: histórias que ajudaram o Cruzeiro a ser bicampeão

Gol decisivo na infância, bronca no Santo André, susto e pressão no Inter e parceria com “baixinho” Everton Ribeiro são ilustrativas para explicar trajetória do jogador

Goulart em cinco atos: histórias que ajudaram o Cruzeiro a ser bicampeão
Ricardo Goulart e a medalha de campeão brasileiro: protagonista no Cruzeiro (Foto: Alexandre Alliatti)


O caminho percorrido por Ricardo Goulart para se tornar um dos astros do bicampeonato do Cruzeiro não foi dos mais acidentados. Ele não chega a ser aquele estereótipo do boleiro sofrido: não saiu cedo de casa, não penou em clubes de esquina, não comeu o pão que o diabo amassou em busca de um espaço no futebol. Mesmo assim, passou por momentos que, talvez imperceptíveis à época, ajudaram a colocá-lo hoje como protagonista cruzeirense - autor de quatro gols nos últimos quatro jogos, incluindo o primeiro da vitória de 2 a 1 sobre o Goiás nesse domingo. São situações que, não por acaso, estão na memória dele – para o bem e para o mal. E que formam um pequeno pedaço do título da Raposa.

Da infância em São José dos Campos, do começo no Santo André, das subidas e quedas no Inter, do reencontro com Enderson Moreira no Goiás, de tudo isso sai um pouco da formação de um jogador tão importante para o Cruzeiro. Em cinco atos, descritos abaixo, é possível conhecer e entender um pouco da trajetória do atleta - certamente um dos candidatos a craque do campeonato.

Ricardo Goulart nasceu e cresceu em São José dos Campos, interior paulista. Aos sete anos, entrou na escolinha do Moreira’s Sports, bastante tradicional na região. Jogou com seu irmão, Juninho, hoje no Los Angeles Galaxy, dos Estados Unidos, e fez dupla de ataque com Casemiro, atualmente no Porto. Habituou-se a atuar entre meninos mais velhos. Não tinha um porte físico que animasse os adultos: era um tanto baixo e até um pouco gordinho. Mas jogava muita bola. E já mostrava aptidão para as redes. Tanto que foi dele o gol do primeiro título da escolinha, em um torneio municipal - um lance que serviu ao garoto como aviso de que o futebol poderia ser seu futuro.

- Se eu tivesse dúvidas sobre minha capacidade, não estaria no futebol. Sempre confiei. Sempre fiz meus golzinhos. Nessa escolinha, numa taça da cidade, categoria 89, 90 e 91, fiz gol no primeiro título. Meu irmão bateu uma falta, e eu fiquei no segundo pau. Foi aquela bola alçada na marca do pênalti, e todo mundo deixou passar. Foi bem batida. Isso eu era novinho. A bola quicou, veio pra mim e "tum"! No ângulo! Eu tinha uns 12, 13 anos. Era bem novo. Ganhei até um cobertor na época – diverte-se Goulart.

O São Paulo foi buscar talentos na escolinha onde Goulart jogava. Mas não quis o próprio Goulart. Ficou com o irmão dele e com Casemiro. O meia do Cruzeiro passou tempos difíceis, contrariado, mais distante do futebol. Mas seguiu em frente. E foi parar no Santo André, onde se profissionalizou. E onde aprendeu uma lição absolutamente fundamental para o modo de jogar no Cruzeiro de hoje: entrar na área para concluir as jogadas. Sem essa capacidade, Goulart não seria o mesmo. É assim que sai boa parte de seus gols.

- Tive que levar um puxão de orelhas para entrar na área. Quando comecei no Santo André, com o Sergio Soares, no Campeonato Paulista, ele falava: “Entra na área, Goulart!”. Mas eu olhava a área tão longe, meu! Falava: “Nossa, é muito longe”. O lateral cruzava no treino, e tinha que entrar na área. Chegou o jogo, e dito e feito. Ele cruzou, e eu fiquei esperando. Se eu estivesse naquele lugar, faria o gol. Hoje, o Marcelo pede a todos os jogadores de frente essa penetração na área.

Ato 3: “Imagina o frio na barriga. Mas o primeiro nome foi o meu”


Ricardo Goulart festeja gol em 2011 pelo Inter B (Foto: Lucas Uebel/VIPCOMM)


Do Santo André, Ricardo Goulart foi para o Inter. Chegou ao clube gaúcho sem chamar a atenção. Mas começou a mostrar bom rendimento na conquista do Brasileiro Sub-23 de 2010 – por vezes, atuando ao lado de Oscar, hoje no Chelsea e titular da Seleção. Abriu caminho para ser mais presente no ano seguinte, quando o clube precisou usar seu segundo time, o chamado Inter B, no começo do Gauchão. Foi muito bem. Fez quatro gols em sete partidas. Mas aí a equipe de jovens foi eliminada no primeiro turno do estadual para o Cruzeiro-POA, e a diretoria simplesmente encerrou o time B. Dezenas de jogadores tiveram que procurar outro rumo – e o mesmo para o técnico, Enderson Moreira, hoje no Santos. Goulart viveu momentos de tensão.

- Perdemos em casa, fomos desclassificados, e aí acabou o Inter B. O Celso Roth (técnico do elenco principal) fez uma lista, e um dirigente disse: “Os nomes que eu citar vão subir para treinar nos profissionais. Quem eu não falar o nome, pode dizer para o empresário procurar alguma coisa”. Imagina o frio na barriga. Mas o primeiro nome foi o meu. Foi tenso...

Ato 4: “Tinha Cavenaghi e Sobis no banco, Beira-Rio lotado, e o Falcão me escolheu”


Ricardo Goulart entrou na lista de Celso Roth dos jogadores do extinto time B que seriam aproveitados no elenco principal em 2011. Mas o treinador durou pouco. Logo foi demitido e substituído por Paulo Roberto Falcão, que botou os olhos no jovem meia e não tirou mais. Viu nele todo o potencial para vestir a camisa titular do Inter. Mas o processo acabou atropelado. Nas oitavas de final da Libertadores, em momento de desespero contra o Peñarol, no Beira-Rio, o Rei de Roma olhou para o banco e chamou Goulart em vez de apostar em atletas mais experientes. A torcida não entendeu nada. A imprensa criticou a escolha. E Goulart não foi bem. Personagem central da eliminação para os uruguaios, ele viveu dias de pressão e aprendizado.

- Um momento em que eu amadureci mesmo foi aquela vez contra o Peñarol. Tinha Cavenaghi e Sobis no banco, Beira-Rio lotado, e o Falcão me escolheu. Aí tentaram achar um culpado. E veio em quem? Mas dei a volta por cima. O caminho segue, o jogador segue a vida, e o clube fica. Mas ali foi tenso. Uma semana tensa. E eu era tão novo... O Inter, com a tradição que tem, toda aquela torcida, você fica chateado também.

Ato 5: “Ó, baixinho, vou tocar de primeira e vamos sair na cara do gol”

Goulart acabou queimado no jogo contra o Peñarol. E talvez isso tenha sido decisivo para o sucesso dele. Pouco aproveitado no Inter , o jogador acabou transferido para o Goiás em 2012. O técnico era justamente Enderson Moreira, o mesmo que o treinara no time B colorado. E aí existe um fator importante, outra dessas questões quase invisíveis que ajudam o Cruzeiro a ser campeão: com Enderson, Goulart jogou no Inter B e no Goiás no mesmo esquema em que joga atualmente na Raposa, o 4-5-1. Isso favoreceu a adaptação dele à sistemática de jogo cruzeirense. E otimizou uma parceria fundamental para o sucesso celeste. A sintonia entre Goulart e seu amigo Everton Ribeiro, o “baixinho”, é a cara do Cruzeiro bicampeão brasileiro (foram deles os dois gols contra o Goiás, por exemplo). Não por acaso, eles foram parar juntos na Seleção.

- Temos um entrosamento muito grande. É meu amigo fora de campo, como todos são, mas tenho mais afinidade com ele. Ele mora aqui no mesmo condomínio. A esposa dele se dá muito bem com a minha. É um grande jogador. Tem uma afinidade impressionante. Eu falo pra ele, “ó, baixinho, o cara vai vir aqui, fica atrás que vou tocar de primeira e vamos sair na cara do gol”, ou “ó, o cara tá meio cansado, vou pra cima dele”, ou “baixinho, vou penetrar na área, toca de primeira, porque o volante vai estar moscando, e eu entro na área”.
Nessas combinações, acaba acontecendo. A gente dá risada no fim. Já dei passe pra ele fazer, e ele também já me deixou muito na cara do gol. É legal essa troca.

2865 visitas - Fonte: Globo Esporte




Nenhum comentário. Seja o primeiro a comentar!

Enviar Comentário

Para enviar comentários, você precisa estar cadastrado e logado no nosso site. Para se cadastrar, clique Aqui. Para fazer login, clique Aqui.

Brasileiro

Sáb - 21:00 - Arena MRV -
X
Atletico-MG
Cruzeiro

Brasileiro

Qua - 20:00 - Governador Plácido Aderaldo Castelo
1 X 1
Fortaleza EC
Cruzeiro