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31/10/2014 20:13

Santos 2 x 3 Cruzeiro – Taça Brasil 1966

por Mauro Beting

Santos 2 x 3 Cruzeiro – Taça Brasil 1966
Piazza não conseguia reconhecer os companheiros celestes que entraram naquela noite no Pacaembu para fazer ainda mais história. Jogavam de branco os companheiros do capitão cruzeirense. As cores do adversário pentacampeão do Brasil. Mas estavam sujos da terra e da lama que castigara a grama do estádio paulistano.

O Santos de Pelé havia perdido a primeira batalha pelo hexa.

Foi 6 a 2 Cruzeiro, no jogo de ida da última Taça Brasil antes do Robertão, verdadeiro pai do Brasileirão. O que não tira o mérito e o peso histórico da competição que é mãe da Copa do Brasil, pelo regulamento e característica.

Ao final do jogo no Mineirão, cartolas santistas haviam sugerido aos cruzeirenses que ficassem por aqueles dias com a Taça Brasil. Até ao menos a desforra. Acharam desfeita os mineiros. Rechaçaram a oferta. Falaram que preferiam ficar em definitivo com o troféu no jogo de volta, em São Paulo.

Ou numa terceira partida que se desenhava no intervalo do segundo jogo, no molhado Pacaembu.

Fim de primeiro tempo: Pelé e Toninho Guerreiro. Santos 2 a 0. Não fosse Raul, o time mais experiente e técnico santista poderia ter devolvido os 5 a 0 da primeira etapa do primeiro jogo em BH. Quando a equipe rápida e rasteira do Cruzeiro jogou lindo e fez antologia. Algo mais difícil de se repetir em SP não apenas pela qualidade santista, que mudou de escalação e de futebol no segundo jogo. Também o gramado que já não era bom do Pacaembu ficou ainda pior com a chuva que inundou a região. Nos tempos em que o Santos mandava no mundo e São Pedro e São Paulo se entendiam nos céus…

Mas ali nos campos de Piratininga mais se via o bolão das Alterosas daquele trem azul. Embora, na primeira etapa, o Cruzeiro não viu a cor da bola. E mal via a própria cor do time. Piazza disse a Anderson Olivieri, no excelente “20 Jogos Eternos do Cruzeiro” (Maquinária Editora) que todo o time estava marrom de lama no segundo tempo.

Equipe que se superou e se jogou em campo e no barro também pelo sangue que borbulhava nas veias azuis depois do célebre e controvertido pedido dos diretores do Santos e/ou da FPF, para já discutir o local da terceira partida, no meio do segundo jogo…

No intervalo do jogo que vinha sendo todo santista, alguém teve a infeliz ideia de provocar o lado adversário. Como se acabando antes da hora a partida para um time azul que sabia fazer a hora, antecipando as flores cantadas de Geraldo Vandré.

O time técnico, dinâmico e extremamente jovem do Cruzeiro voltou diferente depois da provocação de alguns paulistas. Ou voltou a fazer o que havia feito no 6 a 2. Ou mesmo no amistoso no início de 1966: 4 a 3 Cruzeiro. Show de Dirceu Lopes e Tostão. Como havia sido no 6 a 2. Como voltaria a ser na segunda etapa da antologia celeste, no Pacaembu.

Ainda havia Santos na segunda etapa, ainda que sem Carlos Alberto na lateral, e com Mengálvio de vota ao meio-campo desde o início. Pelé escorregou e perdeu gol à frente de Raul, aos 3 minutos. Parecia mais do mesmo do primeiro tempo e dos últimos cinco campeonatos conquistados pelo time paulista. Até o pênalti a favor dos mineiros, que Tostão bateu no meio do gol para defesa do goleiro Claudio. Seguia 2 a 0. E seguia vivo o Santos.

Os jovens mineiros sentiriam o baque, imaginou-se.

Quem sentiu mais foram os beques alvinegros.

Sobretudo os laterais, que sofreram com a contundência e até mesmo o recuo de Natal e Hilton Oliveira para armar e liberar Dirceu Lopes e Tostão pra encostarem em Evaldo.

Falta pela ponta direita, sem muito ângulo. Uma pancada de canhota de Tostão que Cláudio não conseguiu defender, depois do desvio na barreira. 9 minutos. Santos 2 a 1.

Os homens de barro mal conseguiam ser identificados pelos próprios companheiros. Imagine pelos locutores, sobretudo pelos paulistas sem acesso às informações de outros times sem ser de SP e RJ. Ou mesmo sem o menor interesse em conhecer ou reconhecer os méritos de mineiros, gaúchos e outros brasileiros.

O fato é que os homens sujos foram limpando lances, fechando a própria área, e buscando o empate.

Dirceu Lopes foi mais uma vez o craque que definiu, com a ajuda do ótimo goleiro Claudio, que aceitou o tiro forte do meia-atacante celeste. 29 minutos. 2 a 2 contra o imenso Santos.

O empate já dava o título para o Cruzeiro. O Peixe, com um time mais veloz e forte fisicamente que o do primeiro jogo, ainda tentou. Mas, no contragolpe, em lance pela esquerda, Tostão arrancou e tocou para trás. Natal entrou em diagonal e meteu a bota de direita. 44 minutos.

A rede pesada e molhada estufou. O que já era título virou vitória. Virada. Sinfonia celeste na meta da antiga Concha Acústica do Pacaembu.

3 a 2 Raposa.

Nove gols cruzeirenses contra o maior time do Brasil.

Ou ex-maior.

Já que chegava de Minas uma turma de ouro.

Para Nelson Rodrigues, bem Nelson, o novo “maior time do mundo”.

Para a bola pesada e também marrom, o time que conseguiu limpá-la e honrá-la como poucas vezes no Brasil.

Nascia uma estrela.

Ou melhor: a maior constelação mineira.

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