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21/3/2016 07:30

Ex-Cruzeiro levou golpe e foi abandonado por empresário no Vietnã

Ex-Cruzeiro levou golpe e foi abandonado por empresário no Vietnã
O volante Rodrigo Souza atualmente defende as cores do Náutico por empréstimo

Não são poucas as vezes que se ouve por aí sobre como no meio do futebol existem muitos "picaretas", inclusive empresários de jogador. Rodrigo Souza, volante que pertence ao Cruzeiro e hoje atua pelo Náutico, foi uma vítima das falsas promesas.

Em 2010, quando foi para o Chan Tho, time do Vietnã, todo o dinheiro envolvido na transação, desde luvas até salários, sumiu. Somente um tempo depois foram saber o paradeiro da grana, que estava bem longe.

"Passei por uma situação muito complicada no começo da carreira, que precisei me superar. Um empresário que tinha feito toda a minha negociação pegou o dinheiro das minhas luvas e salários e sumiu. Quando descobrimos, ele tinha ido para a África do Sul gastar tudo assistindo aos jogos da Copa do Mundo", disse o jogador, ao ESPN.com.br

"Ele deixou a gente para trás, e precisávamos deixar as malas no hotel para voltar à cidade e conversar com o presidente do clube para resolver a questão do salário. Só assim poderíamos ir embora, voltar para casa."

Sem amparo nenhum, Rodrigo conta que os dias seguintes foram muito difíceis. Sozinho, sem conseguir se comunicar e zerado de dinheiro, teve que se virar como pôde para contornar a situação, que ainda foi agravada com uma lesão.

"Não tinha como reagir àquilo, eu não falava o idioma local e nem inglês. Para piorar, eu tive uma contusão no púbis e não conseguia nem jogar. O cara nos abandonou com problemas financeiros e sem dinheiro nenhum para fazemos tudo, estávamos totalmente lisos."

"Passamos necessidade por causa disso, foi difícil demais. Não tínhamos tradutor para resolver esses problemas, e tinha sido minha primeira vez com uma experiência fora do país."

Ao final de tudo, as coisas se ajeitaram e a situação foi resolvida. Rodrigo voltou ao Brasil e tratou de dar um novo rumo para sua carreira.

"Depois desse golpe eu voltei para tratar a minha lesão no púbis por seis meses. Foi quando apareceu um teste no Sampaio Corrêa do Rio de Janeiro. Assinei por um salário bem baixo, menos de um salário mínimo, mas precisava voltar a jogar bola. As coisas caminharam depois disso. Dei um passo para trás para dar dois para frente."

Apesar de toda a situação vivida, o jogador não tem só recordações negativas dos oito meses em que ficou na Ásia. "Eu pensava que o país, por ter passado por uma guerra de muitos anos, seria cheio de ruínas, coisas destruídas, pessoas mutiladas ou armadas. Mas não era nada disso. É um país muito bonito e está crescendo em tudo, até no futebol. Não é como a China, mas espero que um dia chegue lá."

"Se precisasse morar lá de novo eu iria sem problemas, não tem a mesma violência como no Brasil. Gostei muito de viver lá. O que complica mesmo é o trânsito, que é muito confuso. Todos andam de moto por lá, para atravessar é difícil demais, mas depois acostuma."

DA DESESPERANÇA AO VIETNÃ

A aventura de jogar no Vietnã não foi planejada. No começo de carreira, ele tinha o mesmo desejo de todo garoto. No entanto, as condições de sua família quase impediram seu desejo.

"Meu começo foi igual aos outros, meu foco foi sempre desde pequeno foi sempre jogar futebol. Era o meu sonho e minha mãe sempre me ajudou."

"Quando era pequeno, não tive muitas opções para fazer as categorias de base, fazia mais escolinhas mesmo. Consegui testes no Flamengo e no Fluminense, mas não continuei porque era muito longe da minha casa, não tinha o dinheiro necessário para pagar a passagem até o treino."

Tentou alguns testes, mas sem sucesso. Foi quando apareceu a oportunidade de disputar um torneio no exterior com o Vasco. Parecia um oportunidade e tanto, no entanto o insucesso e veio junto com a sensação de que o futebol não dava mais, que tudo estava perdido e era melhor tentar fazer outra coisa na vida.

"No meu último ano de juvenil fui para o Tigres do Brasil em 2004. Eles estavam começando e fiz a base por lá até o último de juniores."

"Deu uma confusão com um diretor que era treinador e não me profissionalizei. Levei meu pai para lá, mas os caras vieram com condições diferentes do que tinham combinado. Saí de lá com a roupa do corpo. Mas depois teve um empresário que conseguiu um teste para mim no Vasco."

"Fui disputar um torneio na Espanha e depois fiquei um tempo parado sem jogar. Estava meio desiludido com o futebol, achei que não ia conseguir nada. Foi a primeira vez que passou pela minha cabeça a ideia de não mais jogar futebol. Estava com tudo certo para fazer um curso e com um emprego em outra área, mas Deus quis que eu não seguisse esse caminho."

Foi quando o Tigres do Brasil apareceu novamente como uma oportunidade para jogar futebol. Desta vez, com um convite para em cima da hora para ir disputar um torneio fora do país. Ele não teve dúvida e aceitou o desafio, que acabou se tornando a porta de entrada para sua carreira no mundo da bola.

"O filho do Eurico Miranda estava cuidando da equipe. Me convidaram para disputar um torneio no Vietnã e faltava pouco tempo. Treinei uns quatro dias, carimbei o passaporte e viajei, foi muito bom."

"Todo ano iam times da Europa, América e Ásia por lá. Nós fomos campeões e me destaquei. Quando acabou o torneio, vários ficaram por lá. Eu comecei na capital e depois fui para um time com vários brasileiros. Nunca tinha saído para morar fora e ainda mais em um país tão diferente. Sofri bastante no começo, mas depois deu tudo certo e foi uma experiência muito boa. Foram oito meses por lá."

TREINADOR INSPETOR E CARNE DE COBRA

Para um brasileiro que foi morar no Vietnã, tudo era novidade e estranhamento. Como no caso em que o técnico impedia os jogadores de se comunicarem de um modo bem "paternal": cortando a internet.

"Todos dormiam no mesmo alojamento, e não conseguíamos conversar com a família pelo MSN (site usado para comunicações em longas distâncias) por causa do fuso horário. Daí o treinador batia na porta mandando desligar o computador. Ele mesmo desligava a internet às 22h para nós treinarmos no dia seguinte."

Quando o assunto era comida, Souza lembra das maluquices que encontrou por lá, e garante que não seguia os estranhos costumes alimentícios dos vietnamitas.

"Eles comiam carne de cobra e cachorro, mas eu nuca comi (risos). Eu comia o arroz grudado, macarrão, peixe e uma carne. Perdi muito peso, quase 10 kg a menos. Achavam que eu estava doente, cheguei bem magro e se assustaram comigo. Mas a culpa era do calor e da comida."

Mas nem tudo foram situações cômicas ou engaçadas. Por ser negro e morar e morar em um país que não teve a presença de população africana em sua formação étnica, Rodrigo sofreu com o estranhamento dos moradores locais, que muitas vezes não tinham tido nenhum contato com pessoas diferentes que não fossem de sua região.

"Não estavam acostumados com negros, não conheciam, alguns nunca tinham visto um na vida. Eu era bem mais alto que a população local e negro. Quando eu ia ao mercado, parecia um ET. Todos paravam o que estavam fazendo para me olhar, e na cidade nunca tinha morado um negro."

"Eles olhavam, tiravam foto. Uma mulher uma vez pegou no meu braço para ver se saía a cor, se era sujeira. Fiquei chateado na hora, mas vi que não era maldade, é que eles não conheciam mesmo."

Passada a aventura na Ásia, Rodrigo Souza voltou para jogar no Brasil e rodou por clubes até desembarcar no Cruzeiro, recém-campeão brasileiro à época. Sem espaço no clube mineiro, foi emprestado.

"Depois fui para o Madureira, Nova Iguaçu e Boa Esporte. Me destaquei e fui contratado pelo Cruzeiro, que tinha acabado de ser Campeão Brasileiro. Fui campeão Mineiro, joguei a Libertadores e depois fui emprestado a outros clubes."

Hoje no Náutico, Rodrigo Souza busca novamente se destacar. "Agora estou batalhando de novo aqui. Queremos o título pernambucano que não vem há 11 anos para depois conseguir o acesso para a série A do Campeonato Brasileiro. Temos estrutura, nosso treinador é muito bom e espero trabalhar bem para que chegue ao final do ano com a sensação de dever cumprido."

3912 visitas - Fonte: ESPN




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