Perto de aniversário, Matheusinho consegue acesso à educação, mas ainda luta por transplante
Sem ser alfabetizado formalmente até os seis anos, garoto aprenderá braille em casa e aguarda decisão judicial sobre ida aos Estados Unidos para realização de cirurgia
Perto de completar sete anos, o pequeno Matheus terá acesso à educação formal pela primeira vez
Felicidade, do latino felicitate. Estado de quem é feliz. Ventura. Bem-estar, contentamento. Essas são as palavras que definem Matheus Oliveira, o Matheusinho, que logo aos seis anos de idade já viveu várias emoções. O garotinho, que possui displasia neuronal intestinal, doença que lhe impossibilita de se alimentar por vias naturais, vai completar sete anos de vida no domingo (27) e tem um bom motivo para comemorar: ele conseguiu, enfim, acesso à educação.
No entanto, a festa com balões, bolo e alegria tem, também, um gosto amargo para a família do garoto. Desde o fim de 2015, Matheus trava uma batalha na Justiça para garantir o tratamento da doença rara que acomete seu intestino. O transplante precisa ser feito no Jackson Memorial Medical Center, em Miami, nos Estados Unidos, e custa cerca de US$ 1 milhão (aproximadamente R$ 3,6 milhões). O procedimento seria realizado pelo médico brasileiro Rodrigo Vianna.
Desde outubro de 2015, a mãe de Matheus, Gecilene Oliveira, tenta arrecadar o valor para a cirurgia. A campanha, que começou no Facebook e chamou a atenção dos clubes de Minas Gerais, teve grande adesão entre jogadores, artistas e desconhecidos. Até agora, foram arrecadados cerca de R$ 700 mil. Porém, a repercussão de que Matheus teria a cirurgia paga pela União diminuiu as doações.
“Com a liminar da Justiça, o pessoal parou de fazer o depósito. Agora, a Justiça não resolve essa situação, é complicado demais. Espero que resolva logo, porque meu sonho é que ele tenha uma vida como a das outras crianças”, conta Gecilene, ao explicar que ainda não recebeu da União o valor referente à cirurgia.
Entenda o caso
Em 17 de dezembro passado, o juiz federal da 21ª Vara de Minas, Daniel Carneiro Machado, deu 20 dias de prazo para que a União bancasse a cirurgia de Matheus nos Estados Unidos, com todas as despesas pagas, sob pena do pagamento de multa de R$100 mil diários. Passados mais de três meses, a punição atingiu o teto de R$ 4 milhões, mas o processo não andou. A União recorreu, mas perdeu.
“Ficamos esperando acabar o recesso judiciário, que já terminou em janeiro. Não faz sentido demorar tanto”, disse o advogado José Antônio Guimarães Fraga.
Para garantir a transparência do procedimento, Fraga fez questão de declarar, em juízo, os valores em torno de R$ 700 mil arrecadados até agora com a campanha de solidariedade em nome da criança.
“É muito difícil ver crianças sem o intestino chegarem onde o Matheus chegou. Ao se inteirar sobre o Matheus, o médico Rodrigo Vianna disse que era para mandar o caso para lá, com urgência. A possibilidade de o menino ter uma sobrevida feliz e encontrar órgãos compatíveis aos sete anos é muito maior do que em recém-nascidos”, completou.
Aulas em braille
Sem acesso à educação formal até os seis anos, Matheus recebeu uma boa notícia às vésperas da sua festa de aniversário, antecipada para este domingo, dia 20. Nessa sexta-feira, a Prefeitura de Betim, por meio do Centro de Referência e Apoio a Educação Inclusiva (CRAEI), informou que disponibilizará, a partir do próximo dia 28, dois professores responsáveis pela alfabetização e pelo ensino do braille ao garoto. Antes disso, Matheus contava com a ajuda de voluntários para o aprendizado da língua, como a pedagoga Eliane Menezes (vídeo abaixo).
“Segunda e terça, eu vou fazer a definição dos horários direitinho e iniciar a busca dos equipamentos necessários para o Matheus. Vamos disponibilizar dois profissionais da educação: um para auxiliar no braille e outro na tecnologia. Os encontros na casa dele vão ser em quatro dias da semana”, explica Luciane Campos, pedagoga do CRAEI.
O parágrafo III do artigo 208 da Constituição Federal de 1988 garante “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”. Liberado pelo médico que o atende no Hospital das Clínicas, Matheus já está matriculado na Escola Municipal Raul Saraiva Ribeiro e deve começar a frequentar a escola em breve. Para a pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais, Lívia Vieira, a convivência de Matheus com outras crianças é de extrema importância para o seu desenvolvimento.
“É uma questão de oportunidade, de cidadania e convivência com outras pessoas. Não só para essa criança, mas também para os colegas de sala, que aprendem a lidar com a diferença. Desenvolve-se, também, o espírito de solidariedade, de apoio, porque não é todo mundo que pode andar, fazer a mesma coisa que você. As pessoas se humanizam com isso, com essa convivência”, explica.
A ida de dois professores à casa de Matheus tranquiliza a família do garoto.
“Eu fiquei muito feliz, porque até então a gente não tinha nenhuma proposta boa (da prefeitura), porque o pessoal tinha falado para a gente que ia vir só um professor. O Matheus gostou, falou que está querendo receber os professores em casa, fica cheio de perguntas. Ele é uma criança que aprende muito rápido, é uma criança interessada”, afirma Gecilene, mãe de Matheus.
Dia de festa e luta
Mais que um dia festivo, 20 de março de 2015 será símbolo da luta constante do garoto. O aniversário será bancado por doações de amigos, familiares e pessoas até então desconhecidas que se engajaram na campanha. Cada uma foi responsável por uma parte do aniversário: bolo, salão de festa, salgadinhos, docinhos, refrigerante e decoração.
1632 visitas - Fonte: superesportes
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