Com Deivid, Cruzeiro tem bons números defensivos na temporada 2016 (Foto: Washington Alves/Light Press)
O começo do trabalho de Deivid no Cruzeiro não tem sido fácil. O treinador está quebrando a cabeça para definir o time titular ideal e vem convivendo com desconfiança da torcida e críticas da imprensa. O time foi eliminado na fase de classificação da Primeira Liga, com uma vitória (sobre o Atlético-PR), um empate (com o Criciúma) e uma derrota (para o Fluminense), e o ataque tem média de apenas um gol por jogo no Campeonato Mineiro. Paralelamente a isso, o Cruzeiro é líder invicto do Estadual, com 14 pontos em seis partidas. Além disso, a defesa tem números sólidos no Mineiro, com dois gols sofridos, média de 0,33 por jogo.
O sistema defensivo do Cruzeiro vem sendo o ponto alto do time no Campeonato Mineiro. Nas seis vezes em que entrou em campo, o time ficou sem tomar gols em quatro delas, diante de URT, Tupi, Tricordiano e Caldense. Contra o Tombense e no clássico com o América-MG, foi vazado uma vez.
Coincidentemente, com chutes fortes de laterais esquerdos.
O lateral Paulo Otávio, do Tombense, avançou com a bola e, da entrada da área, soltou uma bomba, sem chance de defesa para Fábio. Um golaço.
Contra o América-MG, outro belo gol. O também lateral Bryan acertou um chute potente de longe para superar o goleiro do Cruzeiro.
Fora esses dois lances, de mérito pessoal de dois adversários, a defesa do Cruzeiro não tomou mais gols, o que faz dele a melhor do Campeonato Mineiro.
O comentarista do SporTV, Henrique Fernandes, faz uma análise e aponta os principais fatores e motivos para o bom desempenho defensivo do Cruzeiro em 2016.
Correção de postura privilegiando a defesa
- Desde o início do trabalho, Deivid já variou um pouco a postura do time. Nos primeiros jogos, víamos uma equipe ofensiva, com bastante liberdade para jogadores de meio encostarem no ataque e apoio dos laterais. Foi assim em Criciúma (contra o Criciúma, pela Primeira Liga), com volume, controle, mais chances criadas. O time, porém, ficou vulnerável e sofreu com contra-ataques. A partir daí, o treinador passou a fixar mais um terceiro homem no meio campo ao lado de Henrique e Cabral (inicialmente), com a figura do Sánchez Miño atuando no setor. Depois, com a entrada do Romero, que tem mais pegada, a defesa se estabilizou ainda mais, graças a essa proteção dos homens de meio e uma postura mais cautelosa.
- Em um sistema com três homens no meio campo (Henrique, Romero e Cabral), a defesa tende a ficar mais encorpada, com a primeira linha de quatro homens mais protegida. Sem a bola, Arrascaeta e Alisson ainda podem recuar formando uma segunda linha, protegendo os corredores, e deixando o primeiro homem do meio campo na sobra. Em matéria de recomposição defensiva é o que os times de ponta tem feito atualmente. Uma formação em 4-1-4-1. Contra a Caldense, por exemplo, Romero ficava a frente da zaga, Henrique e Cabral formavam a zona central da segunda linha, com Alisson (esquerda) e Arrascaeta (direita) cuidando dos corredores".
Henrique Fernandes, comentarista do SporTV (Foto: Reprodução)
Capacidade de "sofrimento": Bons resultados na "proteção" de placares mínimos
- Um detalhe interessante é que o Cruzeiro tem vencido muitos jogos pela contagem mínima, mostrando que a defesa tem uma boa capacidade de sofrimento diante da pressão adversária. Isso acontece graças a bons níveis de concentração e organização do sistema defensivo. Normalmente, não é fácil segurar a pressão que um adversário faz diante de um placar de 1 a 0, em que um erro de posicionamento, um bote errado, podem ser fatais.
Boa reação a mudança de peças
- A defesa do Cruzeiro tem mostrado estabilidade mesmo com as constantes mudanças na dupla de zaga. Dos quatro zagueiros mais experientes que o elenco tem (Dedé, Manoel, Bruno Rodrigo e Léo), Dedé e Manoel já sofreram lesões em 16, Bruno Rodrigo já chegou a ficar fora de treinos e Léo volta de lesão grave sofrida em 2015. Isso força o Deivid a mudar mesmo que não queira, mas mesmo assim, com as constantes trocas, o time tem mantido o padrão. Isso é excepcional quando pensamos na necessidade de rotação durante a temporada, sobretudo em posições de defesa do elenco, que sofrem também com suspensões por cartões. No meio também houve mudanças importantes, com alternâncias entre Cabral e Miño, e a entrada de Romero já com o campeonato em andamento. Nas laterais, a mesma coisa. Fabrício e Miño se revezam na esquerda. Mayke e Fabiano na direita.