8/3/2016 13:40
Pelas cruzeirenses que virão...
Presença feminina na vida do Cruzeiro tem sido cada vez maior
Rapazes,
Vocês têm filhas? Se ainda não tiverem, façam uma promessa para nós, mulheres: ao receberem a notícia de que uma menina está a caminho, comprem um par de sapatinho do Cruzeiro. Vestidinhos também, se puderem. Deem às suas meninas o prazer que muitas de nós não tivemos: de dizer que elas são cruzeirenses desde o ventre materno. Garanto que meninas ficam igualmente lindas de azul – mais lindas ainda se este azul for o azul celeste, com as cinco estrelas cravadas no peito.
As nossas meninas precisam ter o mesmo direito que os meninos têm de serem cruzeirenses desde pequenas, e é aí que vocês entram. Assegurem que as cruzeirenses ouvirão, desde a primeira infância, as histórias de Dirceu Lopes, Tostão, Piazza, Raul Plassmann, Alex e Sorín e de tantos ídolos que pisaram na Toca da Raposa III. Assim como vocês ouviram quando eram moleques. Que elas não precisem percorrer as páginas heroicas imortais sozinhas, como muitas de nós tivemos. Prometam que quando elas queiram saber mais sobre o bicampeonato de 2013 e 2014, vocês vão colocá-las no colo e falar daquele meio-de-campo comandado por Ricardo Goulart e Everton Ribeiro, de um jeito que nossos pais não fizeram.
Criem meninas que gostem da Elsa e do Willian Bigode, que façam aula de dança e batam ponto no Mineirão, que cantem as músicas do Show da Luna e o hino do Cruzeiro. Sejam o Fábio que elas vão precisar quando elas quiserem bater uns pênaltis – porque às vezes nós, mulheres, queríamos brincar de futebol e nos disseram que “futebol não é coisa de menina”. Que as meninas que vão nascer sejam livres para amar o Cruzeiro com a força do primeiro amor, desde o começo de suas vidas, e torcer não seja uma decisão tomada em algum momento que elas não saberão dizer com certeza.
Por elas, comecem a ouvir mais o que as cruzeirenses têm para falar. E comecem a fazer isso hoje. Porque, quando elas chegarem, elas não precisarão mais derrubar as barreiras que ainda insistem em nos separar. Prestem atenção nas nossas opiniões, não nos diminuam só pelo fato de não sermos homens como vocês, respeitem a nossa vez de argumentar, deixem que a gente conclua o nosso raciocínio sem achar que a gente não deveria nem estar ali. Nós, que já nos cansamos do machismo e do preconceito, que já tivemos que driblar o lado mais excludente do futebol, que já fomos vítimas de todo tipo de assédio, que já fomos usadas e diminuídas por vocês, resistimos. Por nós mesmas e por elas, que ainda virão.
As cruzeirenses do futuro precisam chegar onde nós estamos lutando para chegar. Elas devem ser muito mais que sócias do clube – que nós já somos, e aos montes. Elas devem ocupar as diretorias, os conselhos e o departamento de futebol, serem vistas como consumidoras de produtos e serviços, virarem público-alvo, chegar à presidência, se elas quiserem. As cruzeirenses que virão não virão para serem espectadoras, acompanhantes, modelos de camisa oficial e (cof cof) musas. Elas virão para serem protagonistas, mais do que nós somos agora.
Não precisamos fazer muita coisa para garantir uma vida mais fácil para a próxima geração de mulheres cruzeirenses. Não é pedir muito que as nossas meninas não precisem ficar provando o quanto elas amam o clube do coração delas. Não precisamos viver testando o quanto as mulheres podem saber ou entender de futebol em comparação com os homens – e não fazemos questão de nenhum certificado de proficiência em futebol, muito obrigada. Deem espaço às meninas, porque nós damos e daremos conta do resto. Que elas se sintam cada vez mais seguras para frequentar um estádio sem ouvir uma cantada que a constrange, trocar ideia nas redes sociais sem que ninguém perca a cabeça e a mande lavar louça, assinar uma coluna em um blog, e também comentar a rodada em um programa esportivo. Afinal, já sabemos mais do que ler tuítes.
Nós, cruzeirenses de hoje, decidimos amar o Cruzeiro todo o santo dia. Seria bem mais fácil não ter Cruzeiro em nossas vidas? Ah, sim. Evitaríamos uma dose extra de machismo, não tomaríamos porrada por insistirmos em nos meter em um ambiente de homens, não colecionaríamos marcas que talvez a gente não gostaria de ter. Seria uma vida mais fácil, mas faltaria algo. Faltaria a emoção, o arrebatamento, o arrepio, a tensão dos acréscimos, a lágrima nos olhos, o grito de gol, a sensação de ser Cruzeiro, tetracampeão brasileiro. E as cruzeirenses do futuro também merecem isso.
Por isso que vocês também são importantes para elas. Vocês podem ser o ponto de partida da história delas com o Cruzeiro. E já podem, desde já, ajudar a construir um lugar onde ela possa simplesmente gostar de futebol, não importando se ela nasceu menina ou menino.
Por elas, vamos começar agora?
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