Lucas Romero tem sido uma das poucas notícias boas do Cruzeiro de Deivid

Há mais ou menos duas semanas, escrevi aqui que parecia que Deivid estava carregando todos os pecados do mundo, pegando gancho em uma música linda do trio de rock rural Sá, Rodrix & Guarabyra, três gênios do cancioneiro nacional. Na ocasião, fiz questão de frisar que não estava necessariamente defendendo o treinador celeste, mas o que me chamava mesmo a atenção era o alto índice de rejeição que ele havia adquirido após cinco ou seis jogos na temporada. Pois bem.


No meio deste caminho, o Cruzeiro fez mais dois jogos ruins, contra América e Caldense. Sem falar da não evolução dentro de campo – acho até que o time involuiu –, alguns elementos estão me chamando a atenção. E eles não são bons.


Se tem algo que Deivid não pode reclamar é da falta de tempo para treinar. Ele teve toda uma pré-temporada para iniciar seu trabalho e muitas semanas cheias para colocar em prática seu conceito e filosofia de jogo. Prometeu que o time estaria na ponta dos cascos na 4ª rodada do Campeonato Mineiro, contra o Tricordiano. Não está. Aliás, está bem longe disso.

Além de tudo, Deivid não tem sido muito feliz em suas entrevistas. Achei totalmente fora de tom sua resposta atravessada após a vitória suada contra a Caldense para tentar justificar o injustificável. “Sou líder”, respondendo uma pergunta que era sobre evolução da equipe.


Infelizmente, essa liderança não transmite confiança alguma ao torcedor. O Cruzeiro tem alternado momentos razoáveis e ruins dentro das partidas contra adversários inferiores. Não que a equipe precisasse dar show com um mês e pouco de futebol na temporada, mas ao menos um futebol seguro e convincente já é obrigação.


A equipe celeste tem vivido de lampejos individuais. Arrascaeta subiu de produção neste início de ano, Romero acrescentou qualidade ao meio, mas o jogo coletivo está bem aquém do grupo que o Cruzeiro possui.


Aliás, outro erro grave de Deivid é o de preterir alguns reforços. Pisano mal entra para mostrar seu futebol. Bruno Nazário tem treinado bem (e até fora de posição) e não ganha ao menos uma chance no banco. O promissor Marciel ainda não foi testado no meio, enquanto Henrique, por exemplo, vem sendo contestado por parte da torcida. É também o caso de Gino. Não que estes atletas sejam soluções logo de cara. Mas não dar ao menos chances significa, aos poucos, desgastar ainda mais um ambiente que já não está tão favorável com o torcedor.


Deivid, e imagino que a própria diretoria, se apegam à liderança do estadual para tentarem amenizar qualquer tipo de pressão. O treinador, principalmente, cai no erro de confundir isso com evolução. Esse tipo de discurso pronto só faz lembrar Vanderlei Luxemburgo, e a torcida prefere ver o capeta ao ex-treinador.


Por outro lado, é justamente essa liderança que bate de frente um pouco com o bom senso. Deivid é querido pelos jogadores e mandá-lo embora sem um motivo palpável pode significar um mal-estar com os atletas. Mas eles também são empregados, e empregado não deve mandar em patrão.


Mais um atenuante é a escassez de bons nomes no mercado. Demitindo Deivid, viria, antes de tudo, que tipo de treinador? Outro jovem? Um mais tarimbado? A torcida teria paciência com outra aposta após cinco jogos? Vale a pena pagar mais de meio milhão no Cuca? Tem dessas. Os questionamentos não devem se resumir apenas à demissão de Deivid.


A impressão que fica é que o limiar entre o certo e o errado está por um fio. O time de Deivid é líder, mas não joga futebol para tal. A diretoria, com o apoio dos jogadores, fez uma aposta ousada e agora tem um pepino grande para resolver. Empurrar a situação com a barriga, pegando adversários fracos e/ou medianos, pode significar um tombo feio lá na frente. Mas também mandar embora um treinador que, mesmo aos trancos e barrancos, está pontuando pode soar prematuro.


A certeza é que os números não se explicam pelo rendimento e não passam o mínimo de segurança. A liderança não pode servir de muleta para o desempenho fraco do Cruzeiro. Mesmo líder, Deivid está devendo. E não é pouco...