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4/3/2016 13:30

O segredo do mistério

Na esteira do segredo, vêm a esperança, a ilusão, a perspectiva de algo muito bom, novo, bombástico. E, se isso não ocorre, a frustração é proporcional

O segredo do mistério

Alguns momentos na vida exigem um pouco de suspense, até para conferir mais charme à questão. O anúncio do ganhador de uma bolada, por exemplo, perderia muito da graça se todos os números fossem apresentados de supetão. Quem tem fé na jogatina e acompanha o cantar das dezenas, uma a uma, sabe bem como o compasso do coração acelera a cada acerto. São preciosos os minutos entre o sonho e a realidade, até o veredito final. Um pedido de casamento sorrateiramente planejado é outro caso em que a surpresa costuma ser ingrediente importante para o sucesso da empreitada. Já no futebol... bem, no futebol o mistério costuma ganhar contornos bem exagerados, por vezes superdimensionados. Sem contar que, geralmente, o efeito acaba sendo o contrário: muita expectativa criada para pouco resultado na prática.

Essa é uma das principais armadilhas da aplicação do suspense no esporte bretão, mais especificamente, do tal treino secreto, como o que Deivid comandou ontem no Cruzeiro. Por pouco mais de uma hora, o técnico vetou câmeras, microfones e olhares da Toca da Raposa II. Abertos os portões, os jogadores saíram dizendo que nada de muito diferente do usual havia sido feito. Naturalmente, no entanto, o fato de o treinador não permitir registros da atividade acaba atraindo para o time uma atenção maior: afinal, o que será mostrado de diferente diante da Caldense, no domingo?

O problema é que, na esteira do segredo, vêm a esperança, a ilusão, a perspectiva de algo muito bom, novo, bombástico. E, se isso não ocorre, a frustração é proporcional. É quase como a quebra de uma promessa que, de fato, nem foi feita. Uma mensagem bem subliminar que fica ali, na seara das ilações.

Fato é que o time do Cruzeiro atual, por si só, já é um mistério. Foram tantos reforços, são tantas as possibilidades de escalação, tantos jogadores que ainda precisam mostrar a que vieram, que nem é muito necessário treino fechado à imprensa. A surpresa está lá, de prontidão, na Toca. O que cada jogador ainda pode render é uma grande interrogação. Qual o real time de Deivid? Mais: qual a cara do Cruzeiro de Deivid? São perguntas ainda sem resposta.

Se o treinador apresentar uma grande inovação no domingo, terá justificado o trabalho fechado à imprensa. Uma inusitada jogada ensaiada, o posicionamento diferente de um jogador, qualquer adorno à realidade. Como a pressão sobre ele está grande, o risco é dobrado em qualquer uma dessas apostas. O que o técnico celeste precisa é definir um caminho. E segui-lo. Dar chance ao time de encontrar a sintonia. Mostrar firmeza em suas convicções.

A proposta inicial na temporada foi a de um time ofensivo. Deivid foi corajoso, não dá para negar. Mas suas certezas ruíram logo no começo, diante da instabilidade da equipe – instabilidade essa bem compreensível, já que os primeiros jogos da temporada normalmente são assim. Mas daí ele mudou. Resolveu reforçar a defesa. Colocou três jogadores de marcação no meio. E a instabilidade não passou.

Decerto, Deivid não fechou o treino de ontem preocupado especificamente com a Caldense. Em como marcar a dupla de ataque da Veterana ou vencer a defesa deles. A equipe de Poços de Caldas é apenas mais um elemento dessa colcha de retalhos que virou a ainda curta, porém já agitada, trajetória de Deivid no comando do Cruzeiro. E o mistério, nesse caso específico, está longe de ter o charme de um anúncio da Mega-Sena ou o romantismo de um pedido de casamento.

1326 visitas - Fonte: superesportes




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