19/2/2016 12:34
Tempo, adversário e aliado
Não é possível prever quão longe essa equipe pode chegar. Nem mesmo se o trabalho de Deivid vai ou não dar certo. O Cruzeiro de 2016 ainda é uma grande incógnita
O tempo no futebol não segue exatamente o correr dos ponteiros do relógio ou a marcação dos dias no calendário. A contagem tem sempre um ritmo mais acelerado, ditado pela ansiedade do torcedor – e isso, muitas vezes, é até inconsciente. Ele quer tudo para ontem: um time ajustado, jogadores entrosados, variações táticas, sequência convincente de vitórias. Saber lidar com esse panorama e toda a pressão atrelada a ele será um dos principais desafios para a sobrevivência de Deivid (foto) como técnico do Cruzeiro.
Do primeiro amistoso até hoje, não se passou nem um mês: em 20 de janeiro, a Raposa entrou em campo em Cariacica para enfrentar o Rio Branco. De lá para cá, disputou cinco jogos oficiais, com duas vitórias (sobre Tombense e Tupi), dois empates (com Criciúma e URT) e uma derrota (para o Fluminense). São sete gols marcados e seis sofridos, com 53% de aproveitamento. Nesse meio tempo, uma reformulação grande no grupo, com chegadas e, sobretudo, saídas, que ainda estão em curso. Desembarcaram na Toca uma comitiva estrangeira (Sánchez Miño, Pisano, Gino e Lucas Romero) formada por jogadores que ainda são apostas e atletas brasileiros sem prestígio, como Bruno Nazário, Douglas Coutinho e Rafael Silva.
São muitas as variáveis para ajudar a explicar a instabilidade da equipe celeste até agora. O período é de acertos, de conhecer a melhor formação e até de lançar jogadores, pois tem reforço que nem sequer estreou. Querendo ou não, a torcida precisa ter paciência. Os erros devem ser criticados, até para ajudar a determinar o caminho a seguir, mas não dá para cravar nada. Não dá para dizer que fulano será o maestro, sicrano será o xerife. Não é possível prever quão longe essa equipe pode chegar. Nem mesmo se o trabalho de Deivid vai ou não dar certo. A verdade é que o Cruzeiro de 2016 ainda é uma grande incógnita.
Deivid tem alguns atenuantes para o início claudicante de seu trabalho. Está em um estágio em que precisa de compreensão e tolerância – o que não costuma ser regra no futebol. Esse aval, contudo, é temporário, com prazo de validade determinado. Se vier uma derrota surpreendente, não haverá argumentos que o sustentem no cargo.
E aí a gente volta à questão do tempo. Dizem que ele cura, que é o senhor da razão e traz consigo respostas. Deivid precisa justamente de tempo para mostrar se chegou mesmo sua hora. O problema é que essas respostas que o torcedor tanto anseia não são imediatas.
Muitas vezes, o tempo também desfaz falsas expectativas, apresenta a realidade, nua e crua. E não faltam provas disso na Toca. Há pouco mais de seis meses, o atacante Marinho era contratado por R$ 1,2 milhão pela diretoria, por três temporadas, e apontado como grande promessa pelo então técnico celeste, Vanderlei Luxemburgo. Foi elogiado na estreia, conseguiu uma sequência de jogos, mas foi só o treinador partir em retirada para que a estrela de Marinho se apagasse. Hoje, está emprestado ao Vitória e não parece despertar a menor saudade nos cruzeirenses.
A barca dos emprestados pelo clube nesta temporada expõe outros exemplos de contratações recentes equivocadas – olha o tempo agindo aí novamente: os zagueiros Paulo André e Douglas Grolli, os laterais Pará e Breno Lopes, o volante Willian Farias, o atacante Joel... Também estão na lista jogadores da base promissores, como o volante Eurico e o atacante Hugo Ragelli, que até há pouco eram considerados candidatos em potencial para um lugar na equipe. Poderiam, perfeitamente, estar no grupo atual. Esses aí, pelo menos, ainda têm o tempo como aliado.
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