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19/2/2016 12:33

'Tinha de haver uma lava-jato no futebol'

Ídolo aproveita experiência para falar de futebol em blog no Superesportes

Tinha de haver uma lava-jato no futebol

Ídolo das duas maiores torcidas do futebol mineiro, Nelinho estreia agora como blogueiro do Uai e do Superesportes. Com a experiência de quem atuou 10 anos no Cruzeiro e seis no Atlético, além de outros clubes nacionais e estrangeiros e na Seleção nas Copas do Mundo de 1974 e 1978, o ex-lateral-direito vai analisar os principais assuntos do futebol brasileiro – o primeiro vídeo já está disponível nos dois portais, tendo como assunto a polêmica em torno do lançamento do novo uniforme atleticano. A ideia do blog nasceu com as filhas, acostumadas a ouvir o pai comentar todos os fatos divulgados pela imprensa – o antigo jogador já teve experiência como comentarista de TV e colunista de jornal.

Como surgiu a ideia de criar um blog?
Sempre que estava vendo TV ou conversando com amigos, dava minha opinião, concordando ou não. Minhas filhas (Manoella, Nathalie e Wuanda) sempre sugeriram que eu criasse um blog para dar opinião. Minha esposa (Wanda) também está sempre comigo, conversando.

Por que você optou por gravar vídeo em vez de escrever um texto no seu blog?
Porque acho mais fácil, natural. Não sou jornalista, apesar de ter experiência como comentarista na TV por dois anos e como colunista num jornal por um ano. Ficava apreensivo na hora de escrever, não me fazia bem. Assim, falo o que penso e falo com naturalidade, como se estivesse sendo entrevistado.

Que assuntos pretende abordar e qual será a periodicidade?
Nossa ideia inicial é que comente o que achar interessante no momento. Uma vez ou outra, posso contar um caso do futebol, uma história, mas não vou ficar preso a isso. Minha ideia é ficar restrito ao mundo do esporte e do futebol. Não vou falar de política, não é minha área. Tenho minha opinião, fui deputado (estadual pelo PDT, de 1987 a 1990), até poderia me meter, mas é outra área, passei por ela, não fiquei. No futebol, fui jogador, treinador, comentarista, presidente da Ademg (Administração de Estádios do Estado de Minas Gerais), tive experiência. A credibilidade é importante. Assunto, vou ter todo dia, mas quero que tenha algo a acrescentar, algo que fique mais tranquilo para fazer, sem me prender muito. Se houver um assunto muito interessante, faço uma ou duas vezes por semana. A princípio, não há nada determinado.

Como vê o início de Diego Aguirre no Atlético e as chances de ganhar a Libertadores?
A propósito, vou colocar esse assunto no blog em breve: não estou vendo nenhum benefício até agora para o nosso futebol, um crescimento do lado técnico, na vinda de treinadores sul-americanos, ainda que sejam melhores do que os que temos aqui. O treinador vem de fora porque fez um trabalho com êxito com jogadores de lá, que aceitam que todo mundo ajude na marcação, jogam com raça. Aqui, nos grandes clubes, quando querem fazer um time fechado, a torcida não aceita, e eles têm de se adaptar. Talvez até produzam bons resultados, mas não do jeito que gostariam. Estão todos perdidos.

A situação é a mesma com os jogadores, que estão chegando em abundância ao Brasil?
Com os jogadores também. Com raríssimas exceções, não somam nada. E tiram espaço que poderia ser de jogadores da categoria de base ou mesmo contratados de equipes inferiores. Quem são esses caras? Não são nada mais do que temos aqui. Temos de buscar lá fora jogadores que acrescentem algo, para ser titulares. Eles têm espaço aqui porque os times estão fracos. Os que vão lá para fora acrescentam muito. Uma única exceção que vejo é o Guerrero, que mostrou serviço no Corinthians e agora está no Flamengo. É lastimável.

Qual a sua opinião sobre a oportunidade dada pelo Cruzeiro ao Deivid?
Acho a oportunidade maravilhosa para ele. Agora, cabe a ele aproveitá-la. Só ele poderá dizer se tem condições. Infelizmente, o treinador é avaliado pelo resultado, não pelo trabalho durante a semana, pelos treinos. Se faz tudo certo, dá bons treinamentos e no jogo o zagueiro falha ou o atacante perde um gol, vão dizer que o time não tem padrão tático. Mas são os jogadores que não estão conseguindo render. Noventa e nove por cento das diretorias avaliam só o resultado, com a pressão de torcedores e da imprensa em geral. Se não tiver resultado, um bom treinador pode ser mandado embora. O pior é que o contrário também acontece: um técnico não treina nada, não sabe dar um treino, mas o time é bom e ganha título. É um erro grosseiro, que não muda.

O que espera do América em seu retorno à Série A do Brasileiro?
Pelo nível do futebol brasileiro atualmente, acredito em tudo. O América está se reestruturando e é difícil imaginar que não tenha chance e vá cair de novo. Não sabemos como o time vai se posicionar na competição. Se colocar um time bem estruturado, correndo muito, endurece. A gente vê isso nos times do interior. É o nosso futebol. Torço para que consiga permanecer na Primeira Divisão.

Os escândalos do futebol brasileiro e mundial servirão para melhorar a infraestrutura do esporte no país?
Tinha de haver uma lava-jato no futebol. Todo mundo sabe que existe (corrupção), mas não tem como provar. Dirigentes entram quebrados nos clubes e saem ricos. Ninguém vai a fundo nisso. Na Justiça, não há nenhum resultado. Isso vem de anos e anos. Parte da imprensa fica se beneficiando com a proximidade de dirigentes e quem poderia falar não fala. É feio. Tinha de ser feita uma reformulação geral, a partir das eleições nas entidades. Acho que o exemplo da lava-jato possa servir para isso. Ninguém está imune. Qualquer um pode ser processado e julgado. A impunidade impera de tal forma que incentiva a corrupção.

E como vê o momento da Seleção Brasileira, com Dunga no comando?
Foi dada a primeira oportunidade a ele (em 2006), que fez um bom trabalho. Como perdeu a Copa do Mundo (África do Sul’2010), meteram o pau nele. Mas, se pegarmos os números, fez um bom trabalho. Agora, a CBF o trouxe de volta, com mais experiência. Se fosse treinador, como o Muricy Ramalho, o Tite, que estavam no auge, eu ficaria chateado: ‘Estou na área há 20 anos, e a CBF pega um ex-jogador sem experiência nenhuma’. Mas é o futebol. Já fizeram isso com o Falcão (1990/1991). Tivemos exemplos lá fora também, com o Beckenbauer e o Cruyff, mas aqui não funcionou.

E a homenagem de um pai peruano, que batizou os filhos gêmeos – nascidos em maio de 1987, três meses depois de você encerrar a carreira – de Minzun Nelinho (o lateral Quina, do Melgar) e Nelinho Minzun, também jogador?
Achei ótima esta história, interessante esta simpatia do pai deles. Comigo não havia ocorrido ainda. É uma homenagem muito importante para a pessoa. Eu me sinto honrado. Estou esperando ele vir a Belo Horizonte para conhecê-lo e bater um papo com ele.

QUEM É ELE

Manoel Rezende de Mattos Cabral

• Nascimento: 26/7/1950, no Rio de Janeiro
• Clubes como jogador: Olaria, Bonsucesso, América-RJ, Barreirense (POR), Deportivo Anzoátegui (VEN), Remo, Cruzeiro, Grêmio e Atlético
• Clubes como treinador: Atlético e Cruzeiro
• Principais títulos
Libertadores 1976 e Campeonatos Mineiros de 1973, 1974, 1975, 1977 (Cruzeiro), 1982, 1983, 1985 e 1986 (Atlético)

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