27/1/2016 13:01
Nada de CBF ou federações. Estamos aqui pelos clubes!
Torcidas precisam abraçar a Primeira Liga. O futebol tem que voltar para as mãos do povo
Apesar deste espaço ser azul estrelado, tenho a pretensão de hoje falar para todos os torcedores, sejam do Cruzeiro ou do Goianésia, time que recentemente ganhou o mundo graças à façanha do guerreiro Wendell Lira, uma releitura sutil e moderna da fábula Davi e Golias.
O golaço marcado por Lira - não o vencedor do prêmio Puskas, mas o que veio em forma de palavras enquanto era observado por Messi, Cristiano, Neymar e o resto do mundo - tem tudo para inspirar novos e profundos rumos no futebol brasileiro.
Lira é só mais um entre milhares de atletas profissionais que perambulam por times pequenos pelo Brasil, tentando fazer deste esporte mágico e ingrato o seu ganha-pão. Nascem para o futebol com prazo de validade, não apenas pelo fato do país ser uma das maiores escolas de talentos do mundo, mas também porque seu principal chamariz é um dos produtos mais maltratados que se tem notícia.
Na noite de hoje, mesmo que de um jeito todo torto, nasce oficialmente a Primeira Liga, uma espécie de novo e adaptado capítulo da fábula famosa, cheio de Davis diante de um Golias que só se tornou gigante porque foi e continua sendo alimentado por eles.
Quinze clubes do eixo Sul-Minas-Rio podem iniciar neste 27/01/2016 uma revolução sem precedentes na história mais que centenária do futebol brasileiro. Pela honra, Cruzeiro, América, Flamengo, Fluminense, Coritiba, Atlético/MG, Figueirense, Internacional, Criciúma, Atlético/PR, Grêmio e Avaí (mais Paraná, Joinville e Chapecoense) podem e devem mostrar para o resto do país que os Davis, juntos, podem derrubar o tal Golias dos tempos modernos.
As idas e vindas da Primeira Liga, que resolveu seus imprevistos meio que aos trancos e barrancos, precisam ficar para trás. Pouco importa qual time será o campeão do torneio. A simples ideia de embate contra a CBF, apesar de todas as ameaças e jogo sujo (o que era de se esperar), já tornam vitoriosos todos os clubes participantes. A camisa a ser vestida é uma só: a da mudança.
A razão do futebol é o torcedor. E o torcedor só está nessa porque é apaixonado pelo seu clube, faça chuva ou faça sol, no camarote ou na geral. Torcedor não está nem aí para a CBF, está se lixando para as federações. A razão da zoação na segunda de manhã nas empresas, escolas, ruas ou internet é o Grenal, o Atletiba, o Fla-Flu, o Cruzeiro x Atlético/MG.
Chegou a hora dos clubes serem mais fortes que seus próprios medos e olharem ao seu redor, abraçar seu torcedor, chamá-lo para o estádio e promover uma festa. A resposta precisa ser dada dentro de campo.
Chegou a hora também dos clubes fazerem sua mea-culpa e mostrarem que estão propensos a implodirem um sistema viciado que eles ajudaram a construir. É preciso uma aliança do bem, um pensamento e ações em prol do coletivo. Nunca é tarde para ser o que sempre deveria ter sido.
Gilvan de Pinho Tavares, que preside a Liga e o Cruzeiro, precisa ser forte em suas convicções e não pode fraquejar. Em extensão, isso vale também para Vitório Piffero, Daniel Nepomuceno, Eduardo Bandeira, Peter Siemsen, Romildo Bolzan e todos os demais dirigentes envolvidos.
Chegou a hora especialmente de separar o joio do trigo. O cenário nunca esteve tão propício para uma revolução. Anarquia? Que seja. O futebol precisa voltar para as mãos de quem tem direito: o povo. E de um jeito limpo e sério.
Que a CBF vá se preocupar com o FBI e sua seleção cada vez mais sem identidade. Deixem o futebol com a gente.
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