Com roteiro digno de filme de suspense, a Liga Sul-Minas-Rio começa hoje, com quatro jogos, incluindo Criciúma x Cruzeiro, no interior catarinense, e Atlético x Flamengo, no Mineirão. Ainda que sob o signo da incerteza, é o passo inicial para que os clubes formem uma organização independente da CBF. A entidade que comanda o futebol nacional é a principal opositora da competição, que reúne 12 equipes da Região Sul, de Minas e do Rio. Se depender dela, que já emitiu nota vetando a disputa, os jogos não passarão da segunda rodada. A CBF promete, inclusive, levar o caso à Confederação Sul-Americana (Conmebol) e à Fifa, para se informar a respeito de como proceder.

Anteriormente, a entidade havia afirmado que não se oporia. Mais do que isso, até pretendia incluir a liga no calendário oficial, porém, apenas a partir de 2017. A posição mudou, aparentemente por pressão da Federação do Estado do Rio de Janeiro (Ferj), que não aceita a participação de Flamengo e Fluminense, com os quais está às turras desde o ano passado, liberando-os só para dois “amistosos”, não para uma competição.

Amparados pela Lei Pelé, os clubes imediatamente anunciaram que não respeitariam a resolução. “A decisão da CBF não vai impedir os clubes da Liga de disputar a competição. Os jogos serão amistosos, não há obstáculo, não há necessidade de autorização da CBF. Precisamos da autorização em 2017 para torná-la oficial. Em 2016, não. A CBF não pode impedir amistosos que não coincidam com estaduais e competições oficiais dela. Os clubes, coesos, vão manter a decisão tomada na última assembleia geral de disputar a liga”, afirmou o presidente do Cruzeiro e também da Primeira Liga (organizadora do torneio), Gilvan de Pinho Tavares. “Emitir uma nota como aquela a menos de 72 horas do início da competição não é coisa de gente séria.”

O imbróglio acabou por unir os rivais mineiros, pois o presidente do Atlético, Daniel Nepomuceno, tem opinião parecida. “Não é questão de bater de frente. Tivemos reunião, no fim de dezembro, determinante para a continuidade dos trabalhos. Todos foram unânimes. Respeitamos o torcedor, vendemos ingressos, o torcedor está esperando o jogo com o Flamengo, acertamos datas com Figueirense e América. Não tem mais o que discutir. A bola tem é que rolar.”

APOIO POPULAR Quem também está a favor da realização da Liga Sul-Minas-Rio é o torcedor. Nas redes sociais na internet, a grande maioria pede para que os clubes rompam com a CBF e com as federações que forem contrárias à independência das equipes.

A Primeira Liga seria um novo passo para que as agremiações realmente se desvinculassem da entidade máxima do futebol brasileiro, organizando o próprio campeonato nacional com autonomia para negociar patrocínios. Ela remete a 1987, quando foi formado o Clube dos 13, que acabou organizando a Copa União, mas posteriormente voltou a se subordinar à CBF para a promoção do Campeonato Brasileiro.

Agora, desentendimentos internos e a falta de união entre os participantes enfraqueceram o torneio. Durante o processo de criação, a liga teve diversos capítulos polêmicos, como a saída e a volta do Cruzeiro à disputa e a renúncia do ex-presidente do Atlético Alexandre Kalil ao cargo de diretor-executivo. Os constantes atritos com a CBF também prejudicaram as negociações com a TV (Sportv), que ofereceu R$ 5 milhões para a transmissão do torneio, quantia muito abaixo dos R$ 100 milhões sonhados pelos clubes.

Resta saber se os dirigentes terão peito para enfrentar a CBF, ainda que o discurso oscile da cautela à ameaça de rompimento. “Não queremos começar nada com briga. Tenho certeza de que a CBF vai rever a posição, pois ela não pode tratar grandes clubes desta forma”, diz Gilvan, que não descarta a insubordinação. “Não somos moleques. Se continuar dessa forma, os clubes vão se unir mais ainda e vão tirar esse pessoal de lá”.