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23/1/2016 13:17

Acredite: existem derrotas que podem ser saboreadas

Acredite: existem derrotas que podem ser saboreadas
Rick Sena foi um dos principais destaques do Cruzeiro na Copinha

Quando surgiu a notícia de que o jogo entre Cruzeiro x Corinthians pela semifinal da Copa São Paulo de Futebol Júnior seria em Itaquera, mais ou menos 80% de amigos ou cruzeirenses que acompanho torceram o nariz. Veio logo o papo de favorecimento e tudo mais. Tudo bem. Não deixa de ser. Mas acharíamos lindo se a Taça BH botasse um jogo desse no Mineirão, por exemplo. No entanto, desde o início vi essa manobra com bons olhos, por mais que seja estranho falar esse tipo de coisa após uma eliminação celeste na qual o apoio de mais de 25 mil corintianos tenha sido fundamental.


Existe uma eterna discussão sobre categorias de base. O importante é ser campeão ou revelar jogadores? Curiosamente, Cruzeiro e Corinthians protagonizam fora das quatro linhas um fato que só alimenta a discussão. Na ida de Willians para o time paulista, o Cruzeiro recebeu Marciel, um dos principais jogadores do Corinthians campeão da Copinha ano passado. Hoje, os torcedores do time paulista reclamam e muito da falta de oportunidades para o garoto, que pode vingar no futebol profissional vestindo azul. Daí vem a pergunta: o que adiantou o Corinthians ser campeão em 2015 se um de seus principais jogadores hoje está emprestado para um concorrente? A reflexão é bem profunda e mostra que existe vida além de uma taça.



Voltando ao jogo de ontem. Não lamentei ou reclamei da mudança repentina da partida para Itaquera por um simples motivo: achava e continuo achando que seria (e foi) uma ótima experiência para a molecada do Cruzeiro enfrentar logo uma adversidade extrema, saber logo cedo que em pouco tempo eles jogarão em estádios lotados e com a torcida adversária jogando contra, o gramado sendo molhado antes da partida e o bandeira errando impedimento de 2 metros. Ainda assim, o Cruzeiro vendeu caro sua derrota em Itaquera.


É lógico que ser campeão é sempre bom. Mas sou desses que acreditam que a vitória nem sempre passa de forma clara e positiva uma mensagem ou aprendizado como acontece no revés. Especialmente nas categorias de base, com atletas ainda em formação, certas derrotas precisam não apenas ser digeridas, mas também saboreadas, mesmo que o gosto seja amargo.


É o caso do jogo de ontem. A Copa São Paulo começou há cerca de três semanas. Neste período, a maioria das equipes fez jogos em curto intervalo de tempo, às vezes de 48 horas. Também a maioria se deslocou de sedes diversas vezes. O próprio Cruzeiro jogou em Marília, foi para Bauru, voltou para Marília, jogou em Osasco, de lá foi para São Paulo e jogou em dois estádios diferentes, um acanhado e antigo, outro grande e novo. Enquanto isso, o Corinthians fincou o pé em Limeira e só saiu de lá para jogar em sua casa.


Cito essas constantes mudanças de sede não como desculpa. Mas apenas a título de registro. Não é porque a molecada nem completou 20 anos ainda que isso queira dizer que eles não cansam. É de se lamentar o resultado esportivo, mas não a trajetória do Cruzeiro na Copinha.


As categorias de base têm como premissa a formação não apenas do atleta, mas também de homens. O Cruzeiro sempre foi tido como um dos clubes de maior tradição e referência na formação de profissionais. A preocupação social do clube é tanta que estudar é pré-requisito para fazer parte das divisões de base.


Por isso, quando se vê uma equipe bem articulada e que tem um estilo de jogo que preserva a história do clube, é de se louvar. Quando garotos como Fabrício, Tom e Rick Sena despontam, ou talentos como Alex e Dudu são captados em outras praças, é sinal de que o trabalho de monitoração e execução de projeto vêm sendo bem feitos. E o Cruzeiro tem sido assim nos últimos anos. Cabe ao torcedor, sim, ter paciência e não apontar que este ou aquele jogador errou em um momento decisivo, ainda mais em época de redes sociais, onde todo mundo fala de tudo e todos a todo o momento.


Se dentro de campo o Cruzeiro perdeu por 2 a 1 para o Corinthians, fora dele o time venceu. Chegou longe, jogou com brio e apresentou qualidade na maior parte do tempo e uma proposta de jogo bem definida, que segue o padrão utilizado em outras categorias de base e no futebol profissional do Maior de Minas. Os meninos do Cruzeiro não voltam de São Paulo com a taça de campeão nas mãos, mas com um aprendizado absurdo que vai servir de atalho nos caminhos para futuras conquistas de todos eles.


Afinal, como diria Abraham Lincoln (um homem bem familiarizado com as decepções e que por um acaso foi também presidente dos Estados Unidos): “O campo da derrota não está povoado de fracassos, mas de homens que tombaram antes de vencer”.

1062 visitas - Fonte: ESPN




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