Atletas da Academia Pérolas Negras prontos para a Copinha / Vitor Madeira / Viva Rio

“A grandeza épica de um povo em formação nos atrai, nos deslumbra e estimula. Não importa nada.” A música “Haiti”, cantada por Caetano Veloso, já existia quando um grupo de jovens daquele país iniciou a busca pelo sonho de se tornar jogador de futebol. Neste domingo, alguns deles terão a oportunidade de escrever a própria história.

Único representante internacional na atual edição da Copa São Paulo Júnior, os haitianos da Academia Pérolas Negras fazem a estreia na competição, às 14h, contra o Juventus.

A equipe é uma iniciativa da ONG (Organização Não Governamental) Viva Rio, que desenvolve um projeto social no país desde 2004. Após o terremoto que devastou o Haiti, em 2010, a ONG intensificou ainda mais os esforços e fundou a Academia com o objetivo de promover novos talentos e tirar jovens de situações de risco.

“É um projeto muito bonito, que investe na formação de novos atletas, oferecendo a eles toda a infraestrutura. Como no Haiti não há mercado para esses jogadores, a Copa São Paulo é a chance da vida deles”, afirmou o técnico Rafael Novaes, em entrevista ao DIÁRIO.

A participação no torneio mais importante para as categorias de base também só foi possível graças à ousadia de Rubem Cesar Fernandes, fundador da ONG. Ele foi responsável por entrar em contato com o Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) e costurar o acordo com a federação.

Por meio de parcerias com empresas e uma fornecedora de material esportivo, a Academia Pérolas Negras conseguiu uniformes e chuteiras para os 25 inscritos na competição.

Goleiro de apenas 15 anos é titular e destaque da equipe

Com apenas 15 anos de idade, Alan Jerome será o goleiro titular da Academia Pérolas Negras na Copa São Paulo Júnior. Segundo o técnico Rafael Novaes, o jogador ganhou a posição pela qualidade superior à dos “veteranos”.

“O Jerome vai jogar porque ele é melhor do que os outros atletas que estão com 18 ou 19 anos. Apesar da pouca idade, ele já tem uma bagagem importante.”

Além do goleiro, o outro destaque da equipe é o zagueiro Oracius Wilmond, camisa 4. “Ele tem demonstrado muito potencial”, elogiou o comandante.

Outra curiosidade do time é a inscrição de Fenelon Marckenson, de 17 anos. Com passagens por Cruzeiro e Audax-SP, o jogador atua pela equipe juvenil do Boavista, mas acabou sendo liberado para jogar o torneio com o grupo.

Entrevista exclusiva: Rafael Novaes, técnico do Pérolas Negras

DIÁRIO_ O que significa para o Pérolas Negras essa disputa da Copa São Paulo?

Esse grupo que vai entrar em campo está treinando junto há um bom tempo, desde o começo da academia. O torneio pode ser um divisor de águas. É fruto de uma jornada a longo prazo.

É possível competir no mesmo nível dos brasileiros?

Fizemos um trabalho intensivo para chegar em um bom nível. No Haiti, os atletas se destacam pela velocidade e pela força, mas, com exercícios cognitivos, implantamos partes técnica e tática. Mesmo porque o futebol, hoje, exige inteligência. Melhoramos muito e podemos brigar de igual para igual. Esse será o nosso maior desafio.