20/12/2015 14:04
Uma fábrica de goleiros na Toca da Raposa
Cruzeiro vem se notabilizando pela formação de jogadores para atuar na meta
Rafael atuou apenas 34 vezes desde a estreia como profissional, há sete anos, mas não pensa em sair do clube
Se tem uma posição com a qual o Cruzeiro não está preocupado é o gol, pois Fábio, com contrato renovado até julho de 2018, vai para seu 11º ano como titular incontestável. Isso, no entanto, não impede o clube celeste de seguir revelando bons goleiros. Se chegou a buscar fora referências sob as traves, como Raul e Dida, a Raposa também foi berço para atletas que se destacaram no Brasil e no exterior – casos de Jefferson, que defende o Botafogo e até este ano era titular da Seleção Brasileira, e Gomes, atualmente no Watford, da Inglaterra.
O trabalho de formação é tão bom, que é corriqueiro o Cruzeiro ter jogadores convocados para as seleções de base. O funil do profissionalismo, porém, é cruel e os destinos são variados, independentemente da qualidade de cada um. Houve, por exemplo, quem preferisse deixar o clube, por saber que pouco atuaria, pois Fábio raramente se machuca e recebe poucos cartões. Foi o caso de Gabriel, de 23 anos, campeão mundial sub-20 pela Seleção Brasileira em 2011 e que em maio do ano seguinte se transferiu para o Milan. Sem muitas chances também com a camisa rossonera, foi emprestado ao Carpi e ajudou a equipe a chegar à elite do Campeonato Italiano. Em julho, foi novamente cedido temporariamente, desta vez para o Napoli.
Também há os que saíram ao não ter o contrato renovado, casos de Glaysson, de 36 anos e que subiu para a Série B do Campeonato Brasileiro com o Tupi, e de Douglas Pires, de 24, atualmente titular do Bahia, que está na Segunda Divisão.
Outros optaram por permanecer na Toca da Raposa II, ainda que sem muitas oportunidades de atuar. Um deles é Rafael, de 26, reserva imediato de Fábio e que jogou apenas 34 vezes desde a estreia como profissional, em maio de 2008.
Campeão sul-americano sub-20 com o Brasil em 2009, ele se mostra bastante consciente da situação. “Estar em uma grande empresa como Cruzeiro é vitrine para todo mundo. Fico muito feliz pela confiança que o clube e a torcida depositam em mim. O Fábio é o ídolo maior, quando tenho oportunidade de substituí-lo, sinto um carinho grande da torcida, o grupo também. Então, me sinto muito feliz aqui”, afirma o camisa 12, que já teve propostas para sair, mas preferiu ficar: “No futebol, há muitas sondagens e muitas coisas são ditas. Já houve times interessados, fizeram propostas de empréstimo, no entanto, tanto o Cruzeiro quanto eu decidimos que não era o momento. Claro que todo jogador quer jogar, mas estou em um grande clube, um dos maiores do Brasil, ganhando títulos importantes. Fora a estrutura que o clube dá, o treinamento com o Robertinho (preparador de goleiros), um dos melhores do mercado. Estar aqui, me preparando com os melhores profissionais, é importante para o meu amadurecimento”.
No Cruzeiro desde 2002, ele já viu muitos companheiros saírem e se darem bem e outros se tornarem “ciganos” da bola, rodando por vários clubes de menor expressão. No momento, Rafael evita revelar os planos. “No futebol, é difícil planejar a médio e longo prazo, é tudo muito rápido, meu contrato vai até o fim do ano que vem, até lá, pertenço ao Cruzeiro, tenho que saber as intenções do clube para depois eu me programar, pensar no que vou fazer”, comenta o jogador, que diz não se arrepender das escolhas feitas até agora.
PADRÃO
Um dos segredos da fábrica de goleiros montada na Toca é o método de trabalho, que começa nas primeiras categorias e vai até o profissional. A padronização faz com que os atletas evoluam naturalmente, sem sentir a mudança de fase na carreira.
O próprio Rafael enaltece o trabalho: “Quando cheguei, aos 13 anos, gostava de atuar no gol, mas não tinha fundamento, aprendi a ser goleiro aqui. Tinha requisitos, era alto, noção da posição, mas foi na base que realmente aprendi tudo o que precisava. Graças a toda a estrutura que o Cruzeiro dá, tanto de treinamento quanto física e psicológica, eu cresci, amadureci. O clube leva muito a sério a questão de evolução”.
Três perguntas para
Roberto Barbosa Santos, preparador de goleiros cruzeirense
Qual o segredo para a revelação de tantos goleiros bons?
O clube tem tradição na posição, e isso acaba atraindo atletas com potencial. O investimento em bons treinadores e em estrutura é grande. Por aqui, passaram grandes goleiros, como Raul e Gomes. O grau de exigência é esse, e o resultado está no campo.
O que fazer para não deixar os reservas do Fábio relaxarem?
A gente exige bastante nos treinos, cobra no dia a dia, ressalta a necessidade de estarem bem preparados. Eu sempre digo a eles, que vão ter poucas chances, mas, quando jogarem, precisam manter o nível do Fábio, ou correm o risco de colocar um ponto final na carreira. Ao menos aqui no Cruzeiro.
O Fábio é um exemplo para os garotos?
O Fábio tem uma postura fantástica, tanto dentro quanto fora de campo. E não só no Cruzeiro, mas para todos da posição no Brasil. Ele conquistou a posição em que se encontra com boas atuações, com títulos e muita dedicação ao trabalho. É isso que mostro para todos.
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