11/12/2015 12:37
Da exclamação às reticências
É uma decisão arrojada da diretoria e, sobretudo, arriscada - mas não necessariamente por causa da idade dele
“Craque Alex, você não acha que ainda falta maturidade ao Deivid?”, pergunta uma torcedora cruzeirense, pelo Twitter, ao ex-camisa 10 celeste, companheiro do ex-atacante na Toca da Raposa em 2003. Com a sinceridade e a simplicidade que lhe são peculiares, Alex completou de primeira: “Claro que falta. Ele tem apenas 36 anos”. E depois emendou, num tom mais otimista: “Mas a filosofia, a grandeza do clube podem ajudá-lo enquanto a maturidade não vem”.
Deivid está entre os treinadores mais jovens da história do Cruzeiro. É uma decisão arrojada da diretoria (também rejuvenescida nos últimos tempos) e, sobretudo, arriscada – mas não necessariamente por causa da idade dele. A grande interrogação que paira na escolha é o fato de Deivid ser uma certeza apenas interna no clube. Seu trabalho ainda não foi colocado à prova de maneira efetiva. É impossível saber como vai lidar com a pressão inerente à profissão – isso, nem mesmo os dirigentes da Raposa, por mais confiantes que estejam no trabalho do novo (literalmente falando) treinador, podem prever.
Como auxiliar, Deivid esteve sempre à sombra de alguém. Nunca foi chamado a tomar decisões, nunca esteve na linha de frente. Não era ele o para-raios, tanto para os elogios quanto para as críticas. E o peso dessa rotina no futebol é grande. Determina os rumos, já que envolve muito mais do que treinos técnicos e táticos. É tudo muito novo, para Deivid e o Cruzeiro. Uma história que começa do zero. E em um clube de expressão, espera-se sempre que o comando esteja nas mãos de alguém já experimentado, de retrospecto vitorioso e habituado à cobrança inerente ao cargo.
Ao mesmo tempo, o currículo limpo de Deivid garante a ele um cartão de visitas livre de rótulos e pré-julgamentos. Não é o tipo de cara que assume carregando qualquer fama que seja: de retranqueiro, de aversão a estrelas, ou ainda de priorizar atletas da base. Será a partir de agora, com o primeiro e grande desafio de sua carreira de treinador, que Deivid construirá sua imagem, determinará seu perfil.
Há um exemplo interessante no futebol atual, de clube que também resolveu apostar alto na juventude. Ele vem da Alemanha, mas em um processo bem diferente ao que faz o Cruzeiro. E tudo passa por uma palavra que já se mostrou incompatível com o futebol brasileiro: planejamento. Em outubro, o Hoffenheim definiu que seu técnico na temporada 2016/2017, que se iniciará em agosto do ano que vem, será Julian Nagelsmann, de 28 anos, atualmente no comando do time Sub-19 do clube. Ele vai se tornar o treinador mais jovem da história do Campeonato Alemão, mas não cairá de paraquedas na função: Nagelsmann foi auxiliar na equipe principal entre janeiro e junho de 2013, antes de assumir o Sub-19, e ainda está terminando sua formação como treinador.
A oficialização de Deivid como técnico celeste não deixa de ser abrupta e, até certo ponto, prematura. Nem mesmo ele poderia esperar que isso ocorresse tão cedo, por mais que afirme estar se preparando para este momento há sete anos. A programação na Toca era outra e não fosse a bolada que levou Mano Menezes para o futebol chinês, era o ex-comandante da Seleção Brasileira que deveria estar à frente da Raposa para 2016.
Com a mudança de rumo, a perspectiva para a próxima temporada também muda. A confiança da torcida celeste em Mano, em função do bom aproveitamento do Cruzeiro na reta final do Campeonato Brasileiro, era equivalente a um grande ponto de exclamação. Agora, com Deivid, o sentimento se assemelha mais ao das reticências...
E é com a expectativa também de dias melhores, dentro e fora das quatro linhas, que a coluna Tiro Livre se despede de 2015, esperando retornar em 2016 sem grandes interrogações!
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