Fabrício se irritou com torcida do Inter contra o Ypiranga (Foto: Reprodução/RBS TV)

Para o Inter, o confronto com o Cruzeiro não vale “apenas” a classificação à Libertadores neste domingo. O jogo no Beira-Rio, válido pela última rodada do Brasileirão, marca o reencontro de Fabrício com o ex-clube. Justamente no palco onde o lateral protagonizou um surto e xingou a torcida colorada, em partida disputada pelo Gauchão. Sem clima para continuar, foi emprestado ao time mineiro.

No dia 1º de abril, o Colorado, ainda sob a batuta de Diego Aguirre, recebeu o Ypiranga pelo Estadual. Aos 18 minutos do segundo tempo, a torcida vaiava o time. O ato irritou o lateral-esquerdo, que abandonou uma jogada pelo lado do campo e se voltou contra a arquibancada. Fabrício discutiu e fez gestos obscenos para os torcedores. O árbitro Luiz Teixeira o expulsou.

A medida não acalmou o atleta. Pelo contrário. Descontrolado, tirou a camisa do Inter e a jogou no chão. Ainda no campo, Juan, Alan Costa, Jorge Henrique e Nilmar tentaram acalmá-lo. Enquanto se dirigia ao vestiário, recebeu um afago de Aguirre e Muriel. Porém, enquanto ouvia a ira da torcida, disparou:

– Eu vou embora dessa m...! Vão todos tomar no c...!

Logo após o jogo, a direção se pronunciou. Decepcionado, o presidente Vitorio Piffero classificou a atitude de Fabrício como lamentável e o suspendeu preventivamente. Cinco dias depois, o mandatário concedeu nova coletiva e informou sobre a decisão do clube. O dirigente entrou em contato com Bruno Paiva, empresário do jogador, e disse que não tinha mais condições de manter o jogador no Inter. No dia seguinte, Fabrício foi emprestado ao Cruzeiro.


Fabrício visitou os ex-companheiros em Belo Horizonte (Foto: Tomás Hammes / GloboEsporte.com)


O desfecho não abalou seu relacionamento com o grupo, entretanto. Nas concentrações e em deslocamentos de ônibus, era ele o responsável por animar o ambiente e colocar a trilha sonora. Tanto que, após a atitude intempestiva, alguns colorados estiveram na residência do jogador para conversar.

Os laços não diminuíram nem mesmo após sua ida a Belo Horizonte. Já como atleta da Raposa, Fabrício aproveitou a estadia do Inter na capital mineira para o confronto com o Atlético-MG pelas oitavas de final da Libertadores para visitar os companheiros no hotel que servia de concentração.

Junto de Júlio Baptista, permaneceu cerca de três horas no espaço destinado às refeições da delegação gaúcha. Conversou animadamente e aproveitou para passar algumas dicas sobre o Galo. Na saída, Fabrício evitou se prolongar sobre a polêmica e disse que queria matar a saudade dos amigos:

– Já passou. Não podia ter acontecido, aconteceu, bola para frente. Pedi desculpa a quem tinha que pedir – declarou, para depois completar: – Estava com saudade de todo mundo. Vim ver a rapaziada. Fazia um mês que não os via pessoalmente, só conversávamos pelo grupo do WhattsApp (aplicativo de troca de mensagens).

TRAJETÓRIA NO INTER MARCADA POR CONFUSÕES

Fabrício chegou ao Inter em 2011. Conhecido pela vocação ofensiva, também teve sua passagem pontuada justamente pelo temperamento explosivo. Em 2012, teve problemas com Dorival Júnior. No ano seguinte, completou a temporada com três cartões vermelhos.

Ainda na pré-temporada de 2014, prometeu mudar de postura. Já no Gauchão, se mostrou incorrigível. Após levar um tapa na boca, se descontrolou e foi para cima de um adversário na vitória do Inter por 2 a 1 sobre o Juventude. Depois, em um treinamento, não gostou de ouvir uma crítica de Willians e brigou com o companheiro .

Durante o Brasileirão, apesar de ser um dos heróis da classificação à Libertadores de 2015, principalmente contra Atlético-MG – vitória por 2 a 1 –, e Palmeiras – triunfo por 3 a 1 –, voltou a apresentar sua faceta explosiva. Contra o Verdão, se descontrolou após ser provocado por Bruno César.

Fabrício está emprestado ao Cruzeiro até a metade do ano que vem. Pelo Inter, disputou 183 partidas, tendo marcado 16 gols. Deste total, foram 11 jogos em 2015, com um tento.

DE FRENTE COM MANO

O reencontro com Fabrício não é o único ingrediente para o confronto entre Inter e Cruzeiro. A partida ainda marca a visita de Mano Menezes ao Beira-Rio. O treinador, que está prestes a deixar o clube mineiro para trabalhar no futebol chinês, tem uma relação turbulenta com o presidente colorado Vitorio Piffero.

Ainda durante as eleições do clube, em 2014, o então candidato descartou o nome de Mano – que trabalhou nas categorias de base do clube. Após vencer o pleito, voltou atrás em uma coletiva, enquanto ainda não tinha o técnico definido – Diego Aguirre acabou escolhido. Após a demissão do uruguaio, Mano voltou à tona no Beira-Rio. Porém, mostrou não ter esquecido as palavras do dirigente e rechaçou qualquer possibilidade de trabalharem juntos:

– Se todos puxarem pela memória, o Inter estava para contratar um técnico, depois da saída do Abel (Braga). Entrevistaram o presidente e ele disse que eu não tinha o perfil. Ele tem todo o direito. Até acho que ele poderia não ter falado em público, ter sido mais elegante. Eu não vou trabalhar no Internacional com ele. Eu respondi ao vice-presidente do Internacional, na época. Eu penso que técnico é um cargo de muita confiança do presidente do clube. Você passa por muita desconfiança durante a temporada. Quando desde o começo não existe essa empatia, não tem como. Ele sabe que eu não vou trabalhar com ele – afirmou, em entrevista ao SporTV.

Ou seja, além de vencer o Cruzeiro e secar o São Paulo, o Inter terá ainda que enfrentar Fabrício e Mano motivados. A partida será disputada a partir das 17h de domingo no Beira-Rio. Atualmente, os gaúchos estão em quinto com 57 pontos, dois atrás dos paulistas, que fecham o G-4.