Nesta semana mudei de casa. Uma das coisas que mais me deram trabalho foi escolher o que realmente é importante para minha vida. Estou saindo de uma casa e indo para um apartamento, buscando ter menos trabalho e me preocupar somente em trancar a porta da sala quando estiver me dirigindo ao aeroporto. Foi mais ou menos como tentar colocar São Paulo dentro de Nova Lima. Mas, no final, valeu a pena. Se existe alguma coisa de que você não precisou nos últimos dois anos, é sinal de que não precisa guardar. Claro que estou excluindo desta lista a declaração de imposto de renda que precisamos ter por pelo menos cinco anos.

Neste processo acabei aprendendo a selecionar melhor o que já foi importante e o que permaneceu com algum valor mesmo depois de tanto tempo. Nestes últimos dias estamos passando pelo tradicional processo de escolhas do que queremos ser no próximo ano. Queremos basicamente um time vencedor, com bons jogadores, buscar novos títulos e isto tudo com um ótimo técnico comandando o time. Ainda não sei qual a decisão do Mano Menezes quanto ao seu futuro. Talvez esteja criticando uma provável decisão, mas acredito que, pelo seu perfil, ele se transformará no mais novo expatriado em busca de alguns milhões que darão tranquilidade para ele e sua família.

Uma boa parte dos cruzeirenses deve se lembrar que, há alguns anos, ele se recusou a ser o nosso técnico ao optar por reger o Corinthians na sua cruzada na Série B do Campeonato Brasileiro. Na época, fiquei puto da vida. Senti uma falta de respeito ao maior de minas. Na verdade, ele buscou um protagonismo num projeto arriscado, mas que poderia render muita visibilidade. Ele conseguiu isto com o time paulista e repetiu agora conosco. É lógico que todos estes movimentos foram uma troca. Ele nos ajudou a sair de uma enrascada que cavamos por escolhas malfeitas e ganhou a visibilidade que estava procurando.

A única coisa que fico pensando é sobre até que ponto um técnico que ainda pode fazer muito pelo futebol brasileiro, com muito tempo de carreira pela frente, precisa escolher a opção pelo dinheiro em vez de buscar um projeto sólido e estruturado. Não estou no lugar dele, mas a decisão pelo dinheiro versus qualquer coisa boa que acrescente algo na sua vida é sempre difícil. A maioria dos jogadores respeitados após o encerramento da carreira está entre aqueles que não deixaram o dinheiro mandar em seu destino. Quando você olha para uma foto e fica pensando se vai guardar ou não, é como se você escolhesse se aquele momento que a foto representa é importante ou não para sua vida. Com o dinheiro é a mesma coisa. Se ele começa a mandar nos seus rumos, é sinal de que o seu destino não é tão importante.

Ainda estamos passando pelo processo de reestruturação no nosso futebol pelo desastre dos 7 a 1. Quando um técnico de ponta do nosso futebol faz uma opção de ir para a China simplesmente por dinheiro é sinal de que todos os valores como visibilidade, prestigio e respeito são menos importantes. Antes, só éramos trocados por bons times da Europa. Agora, qualquer um que balance um cheque com alguns zeros a mais leva qualquer jogador ou técnico.

Não é isto que queremos e, se ele fizer a opção pela China, que seja feliz. Como bem disse um amigo, estamos passando no futebol o mesmo problema da política. Estamos tomando uma goleada – e não é da Alemanha. É do Chile, México e Colômbia. A nossa economia em frangalhos e os bons profissionais indo embora pra qualquer lugar. Este é preço que estamos pagando pelas estruturas viciadas e encasteladas do nosso futebol.

O Cruzeiro atualmente tem ótimo elenco e com uma gestão nova, que tem tudo para que 2016 seja um ótimo ano. Acho uma falta de carinho enorme deixar vazar na imprensa que existe uma proposta milionária de outro país, como foi feito. Se ele ficar é porque existe respeito. Senão, foi apenas um trampolim necessário.

Seremos felizes com ou sem ele. Disso eu tenho certeza.