Klauss Câmara, diretor das categorias de base do Cruzeiro (Fotos: Marco Antônio Astoni)

Não é mais novidade no futebol brasileiro que as categorias de base têm papel cada vez mais importante dentro dos clubes. A crise econômica, que gera dificuldades nas contratações nos mercados interno e externo e desvalorização do real em relação ao dólar e ao euro, obriga os clubes brasileiros a investirem na formação e na revelação de novos talentos. Dentro desse quadro, e, se depender dele, o torcedor do Cruzeiro pode ficar tranquilo. O clube mineiro mostra padrão de excelência no assunto e, com projetos e ações inovadoras, tem tudo para se tornar referência no que diz respeito a formar jogadores de ponta. Pelo menos, essa é a ideia do superintendente das categorias de base do Cruzeiro, Antônio Assunção, e do diretor Klauss Câmara.


O fato de o vice-presidente de futebol, Bruno Vicintin, ser oriundo da base é um fator facilitador do trabalho de Assunção e Câmara. Foi Vicintin quem levou os dois para a Toca da Raposa I, além de ser incentivador de todos os projetos que estão sendo desenvolvidos. O GloboEsporte.com conversou com os dois dirigentes e, nas próximas semanas, vai mostrar tudo que está sendo feito na base do Cruzeiro.

DNA campeão

O engenheiro Antônio Assunção Almeida assumiu a superintendência da base no começo de outubro. O cargo estava vago desde agosto, quando Bruno Vicintin foi para a vice-presidência de futebol profissional. Toninho, como é conhecido, é conselheiro do clube e homem de confiança do presidente Gilvan de Pinho Tavares. Hábil politicamente, Toninho é o elo entre o profissional e a base. Ele afirma que, assim como fez nos últimos anos, quando revelou valores como Lucas Silva, Alisson, Élber, Vinícius Araújo e Mayke, o Cruzeiro terá mais jovens talentos à disposição do técnico Mano Menezes.

Nossa esperança é revelar, no mínimo, três jogadores por ano. Nossa meta anual é subir de três a cinco jogadores. O trabalho vai ser mais enxuto, com menos atletas, para apurar a qualidade, porque o Cruzeiro precisa de retorno técnico e financeiro.

O zagueiro Bruno Viana e o meia Luiz Fernando foram os dois últimos jogadores a subir do time Sub-20 para o profissional. Segundo Assunção, novos nomes devem pintar na Toca da Raposa II no começo da próxima temporada. O dirigente, no entanto, fez mistério e não revelou quem são. As principais apostas são o lateral direito Dione, meia Alex e o atacante Hugo Ragelli.

- Temos dois nomes muito fortes para subir para o profissional em breve. Mas ainda não vou dizer quem são. Até porque esses meninos já têm contrato profissional a partir dos 16 anos de idade, e isso pode atrapalhar numa negociação futura com ele, e até chamar a atenção de outros clubes. Mas, pode ter certeza, que tem jogadores especiais sim e que estão sendo bem trabalhados dentro do clube. Temos 152 garotos aqui e esperamos superar essa meta de três jogadores com tranquilidade.


Antônio Assunção espera subir pelo menos três jogadores da base para o time profissional em 2016


Antônio Assunção reafirma a importância de revelar jogadores para o time profissional. Mas também ressalta que é importante colher resultados importantes desde novo. Toninho fala que o Cruzeiro tem DNA campeão e que, por isso, os jovens jogadores são incentivados a ter espírito competitivo desde quando chegam à Toca da Raposa I. O Cruzeiro fez bonito nas competições de base em Minas Gerais este ano. Venceu três categorias (Sub-14, Sub-16 e Sub-20). Além disso, tem o título do Sub-17 praticamente garantido, e é vice-líder do Sub-15.
- Este ano, o Cruzeiro ganhou o Sub-14 e o Sub-16, chamados de Copa União e organizados pela IMEF (Instituto Mineiro das Escolas de Futebol). Em ambos goleamos nosso rival, por 5 a 1. A FMF (Federação Mineira de Futebol) organiza o Sub-15, o Sub-17 e o Sub-20, no qual já somos tricampeões. No Sub-17, estamos na liderança e no Sub-15, na vice-liderança, com possibilidade de reverter o quadro. Então, de cinco categorias, ganhamos três, uma está bem perto e na outra temos chances ainda. O jogador do Cruzeiro tem que crescer com essa mentalidade, acostumado a ganhar. É um fator motivacional muito grande, principalmente nas categorias de base. O Cruzeiro tem um DNA vencedor e os garotos vão crescendo assim.
Identidade própria

Klauss Câmara, diretor das categorias de base, começou a carreira no Cruzeiro como jogador. Tornou-se profissional no BHFC, time do ex-atacante Reinaldo Lima. Klauss, entretanto, se destacou fora das quatro linhas. Graduou-se em gestão esportiva e fez pós-graduação em gestão e marketing esportivo. Trabalhou no Figueirense, como supervisor da base. Depois foi para o Atlético-PR e, de lá, para o Cruzeiro. Em ambos, foi coordenador de captação e descobriu atletas como Otávio, Marcos Guilherme e Judivan. Foi convidado para ser coordenador técnico da base do Fluminense. Até que, em junho do ano passado, a convite de Bruno Vicintin, voltou ao Cruzeiro, agora como diretor.

O trabalho de Klauss Câmara na Toca da Raposa I é complexo. O dirigente organizou vários programas, em diversas áreas, que visam formar o atleta em todos os níveis, usando a ciência como aliada e também explorando o lado lúdico do futebol, esquecido pelos clubes hoje em dia. Hoje, veremos a criação de uma identidade para o clube, desde os primeiros passos na base, que engloba jogo, jogadores e profissionais.

- A gente começa com ações fundamentais não somente para a base do Cruzeiro, mas também para o futebol brasileiro. Se você não sabe pra onde está indo, qualquer caminho te leva lá. O clube de futebol no Brasil não tem critérios nem parâmetros para trabalhar, infelizmente. Não existe identidade, principalmente desses três elementos: jogo, jogador e profissionais.

O que Câmara está desenvolvendo no Cruzeiro tem semelhanças com o que é feito no Barcelona, da Espanha, há alguns anos, principalmente no que diz respeito à criação de uma unidade de identidade, desde o dia em que o garoto chega na Toca I até quando estreia pelo profissional. Veja abaixo um vídeo de uma vitória do Cruzeiro por 5 a 1 sobre o Atlético-MG pelo Campeonato Mineiro Sub-16)

- É mais ou menos isso, mas o mais importante é ter definido aquilo que a instituição quer. Aquele escudo, aquela camisa. Que tipo de jogador tem que usá-la? Que tipo de profissional tem que trabalhar nesta instituição? Isto é fundamental para os clubes de futebol no Brasil. Eles têm que ter uma identidade. Por isso é essa bagunça no futebol brasileiro. Se você não sabe onde vai, qualquer caminho te leva, qualquer jogador serve, qualquer profissional pode trabalhar, qualquer treinador pode usar o esquema que quiser, pode fazer um jogo totalmente defensivo, sem qualidade e ofensividade. O Cruzeiro tem um DNA e uma história, construídos ao longo dos anos. Criar uma identidade é fundamental para todo clube de futebol e isso eu pude ver lá fora. Eu estive no Barcelona e no Porto, vi isso na prática. O Brasil se perde muito por não ter isso muito bem definido. Por isso criamos uma identidade de jogo, jogadores e profissionais.

Klauss Câmara explica como desenvolveu o projeto de identidade do Cruzeiro. O diretor conta que estudou muito para chegar ao produto final
- Isso não surgiu da minha cabeça. Busquei arquivos históricos pra entender o que é o Cruzeiro. Em 1966, o Brasil conheceu o Cruzeiro com um DNA ofensivo, com jogadores técnicos e talentosos. Ou seja, a partir daquele momento, você como o Cruzeiro foi apresentado. Como foram estes conceitos e estas equipes? O que sempre encantou a torcida? A partir daí, construímos um modelo de jogo que o Cruzeiro tem que jogar.

Identidade de jogadores

- Definição de características e comportamento em campo de goleiros, laterais, zagueiros, volantes, meias e atacantes (lado e área).
Identidade de jogo

- Definição de estilo, velocidade, técnica e postura em campo.
Identidade de profissionais

- Definição de perfil, personalidade, características e objetivos.
Nas próximas semanas, mais sobre a base do Cruzeiro. Diamante Azul, TV Cruzeiro (treinamento de mídia) e Grupo Especial são alguns dos assuntos.