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14/8/2014 12:28

Quando a rede social entrega

Jogadores brasileiros, em geral, não são profissionais e não respeitam contratos. Por isso, estão em baixa nos grandes clubes europeus

Quando a rede social entrega
"Bernard é jovem, mas seus agentes deveriam cuidar melhor de sua carreira e dos seus atos"

O técnico do Shakhtar, Mircea Lucescu, diz que em 40 anos de futebol jamais viu atitude como a de Bernard (foto), que não aparece há três meses e virou “jogador de Twitter”. Em resposta, o atacante tuitou: “Lucescu não deve saber matemática, já que a Copa terminou não tem 30 dias”. O jogador andou sendo visto na noite de BH, aproveitando os últimos dias de férias.

A Ucrânia está em guerra com a Rússia, mas isso não justifica o desaparecimento de um jogador com contrato em vigor, que fatura cerca de R$ 1 milhão por mês. O profissionalismo exige que ele se apresente para a pré-temporada – por sinal, na Áustria – e, se houver risco de vida ao chegar ao país, que se sente com os dirigentes e até alguém da diplomacia brasileira para encontrar uma solução.

Bernard é jovem, mas seus agentes deveriam cuidar melhor de sua carreira e dos seus atos. Infelizmente, esse exemplo confirma coluna anterior na qual abordei a falta de profissionalismo dos jogadores brasileiros, com raras exceções. Na hora de se transferir para outro centro, eles não se interessam em conhecer a cultura, os costumes e as dificuldades que vão enfrentar. Ávidos pelo dinheiro e movidos pela pressa dos empresários, assinam contrato e só pensam nos direitos.

Já vimos esse filme antes. O caso mais emblemático, até ridículo, foi protagonizado por Viola. Vendido pelo Corinthians ao Valencia, ele regressou ao Brasil pouco depois, alegando inadaptação à comida espanhola, que é das mais respeitadas do mundo. Temos vários outros casos de atletas que embolsaram boa grana na Europa ou no Japão e logo largaram para trás um contrato longo e as obrigações nele inseridas. E sempre há um dirigente daqui para proteger o “fugitivo” e tentar repatriá-lo. Geralmente o próprio clube que havia feito a venda.

Jogadores brasileiros, em geral, não são profissionais e não respeitam contratos. Por isso, estão em baixa nos grandes clubes europeus e só conseguem lugar na Ucrânia, Rússia, Japão, China, Coreia do Sul ou outros centros menos valorizados. Há muito Real Madrid e Barcelona não buscam jogadores aqui, à exceção de Neymar, que ainda não conseguiu mostrar seu valor por lá. Por isso também jogadores argentinos, proporcionalmente, superam os brasileiros por lá, pois saíram de um país com 70 milhões de habitantes, não de um de 200 milhões. Responsáveis, cumprem o contrato à risca.

Bernard é apenas mais um produto do meio viciado em que se transformou o nosso futebol. No qual a palavra não vale nada, tampouco um papel assinado. Ele corre o risco de ter o contrato rescindido, de devolver a grana que embolsou e de não poder atuar em lugar nenhum. Rivellino, tricampeão do mundo, sofreu esse drama na Arábia Saudita. Comentou-se que a mulher dele impressionou um príncipe local, que teria oferecido alguns camelos por ela. O craque, de forte personalidade, ao dar a saída em um jogo, chutou a bola na direção do camarote blindado do tal príncipe. Para sair do país, recorreu à diplomacia brasileira, mas os árabes, em represália, não liberaram seu contrato e acabaram levando-o a encerrar a carreira.

Bernard é bom garoto, mas anda deslumbrado com o que já conquistou em apenas dois anos. Foi campeão da Libertadores, chegou à Seleção e ganhou o suficiente para não precisar trabalhar pelo resto da vida. Mas deve aprender a cumprir o que assina. Ao contrário do Brasil, o Shakhtar não vai demitir o treinador para apoiá-lo. E o atacante ainda poderá sofrer um processo para devolver boa parte da fortuna que recebeu, além de ter o contrato preso e não poder atuar nos próximos quatro anos. É melhor pensar bem e se reapresentar enquanto é tempo. Os empresários pouco se lixam. Pensam apenas em sua comissão.

1563 visitas - Fonte: Superesportes




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