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31/7/2014 12:35

OFF - Promiscuidade sem fim

'Por que os órgãos competentes não investigam a vida de empresários e cartolas? Existem mecanismos para checar as contas deles no exterior e como o dinheiro foi depositado'

OFF - Promiscuidade sem fim
"Quantos cartolas no país eram quebrados e ficaram ricos nos últimos tempos?"

Sou da época em que presidente de clube tirava dinheiro de sua empresa para pagar salários ou contratar jogadores. Da filosofia de que bom dirigente não deve pôr nem tirar da instituição. Mas vemos hoje total promiscuidade. Quantos cartolas no país eram quebrados e ficaram ricos nos últimos tempos? Alguns se mantêm quebrados como pessoas jurídicas, mas continuam ricos, com dinheiro lá fora. Depois que a Lei Pelé modificou a relação dos clubes com os atletas, cresceu a figura do empresário, que fatura fortunas com as negociações e, por depender da autorização do dirigente para representar a agremiação, acaba dividindo com ele a comissão de 10% ou 20%. E por que ninguém pôs ainda esses cartolas na cadeia?, me cobra um leitor. Por ser impossível provar. Como a maioria dos jogadores é vendida para o exterior, a comissão fica por lá mesmo, bem como o rateio entre cartola e agente.

Há exceções. Gente séria, que dirige o clube por vaidade ou por amor, mas cada vez mais escassa. As agremiações estão falidas, apesar das receitas astronômicas. O ex-presidente do Atlético Nélio Brant, em cuja gestão o time foi vice-campeão brasileiro e se classificou à Libertadores de 2000, tinha orçamento de R$ 6 milhões. Hoje ele está na casa dos R$ 300 milhões. O futebol no país se tornou irreal, um mundo de fantasia, que uma hora vai cobrar a conta. É inadmissível um clube pagar R$ 1 milhão por mês a um jogador ou R$ 600 mil a um treinador. Esse absurdo precisa ser controlado pelo Ministério do Esporte. O maior patrimônio de um clube, razão de sua existência, é o torcedor. Mas é quem tem menos direitos. Basta ver as brigas entre facções organizadas, que não respeitam ninguém. O torcedor comum, que ama o clube e nada pede em troca, é quem mais sofre.

Um dos gestores do América, José Flávio Lanna Drumond, me disse recentemente que o clube continua a ser grande formador de jogadores, mas observou que estamos atrás de inúmeros clubes europeus, que podem manter garotos de 12 a 14 anos em seu CT, ao passo que aqui a lei proíbe. O Coelho mesmo é obrigado a treinar meninos dessa faixa longe de seu CT, para não caracterizar vínculo empregatício. Assim, aos 14 anos, fica-se livre para assinar contrato com quem bem entender. Michel Bastos, lateral-esquerdo do Brasil na Copa da África do Sul’2010, foi formado pelo América, passou pelo Figueirense e foi levado para a Europa. David Luiz defendeu o Vitória antes de cruzar o Atlântico.

O governo e o Ministério do Esporte precisam entender que o clube formador precisa ter o direito resguardado para quando o garoto se transferir. Que receba pelo menos 50% dos direitos econômicos, para ser ressarcido quando o empresário levar o atleta para o exterior. Por isso, os alemães têm equipes fortes na faixa dos 14 anos. Lá não é proibido formar jogadores nos CTs e os clubes são mesmo donos dos direitos. O coordenador da base da CBF, Alexandre Gallo, vê-se obrigado a convocar atletas de empresários para montar time competitivo.

Está tudo errado no nosso futebol. Dirigentes usam o clube – e ainda tem torcedor bobo que bate palmas –, se elegem, se acham donos da agremiação e fazem o que bem entendem. Os conselhos deliberativos, formados por indicação deles, dizem amém, aprovam contas absurdas e não querem saber das dívidas. Por que os órgãos competentes não investigam a vida de empresários e cartolas? Existem mecanismos para checar as contas deles no exterior e como o dinheiro foi depositado. Sei que muitos já não estão mais nos clubes, ficaram ricos e sumiram de cena. Mas ainda tem muita gente usando esse artifício no Brasil.

Como eu disse, tem gente séria no mercado, comprometida com as instituições, que no máximo quer se tornar conhecida. Aqui em Minas há exemplos. Talvez por isso o Cruzeiro seja o campeão brasileiro, o Galo, o dono da América, e o Coelho tenha chances de voltar à elite.

1503 visitas - Fonte: Superesportes




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