Há nove meses, um áudio vazado mostrava o dono da SAF do Cruzeiro, o empresário Pedro Lourenço, cobrando o então técnico Fernando Seabra sobre o uso de reforços na formação do time: "Escala ou pode ir arrumando sua mala". Dois meses depois, com a equipe vivendo instabilidade após um ótimo começo de trabalho, Seabra seria demitido.
Para assumir o seu lugar, chegou Fernando Diniz, que também não teve êxito, apesar de alcançar a final da Copa Sul-Americana. De forma um tanto inexplicável, Diniz foi mantido para esta temporada, mas acabou demitido quando janeiro nem havia chegado ao fim. A falta de critérios e as escolhas aparentemente equivocadas mostram que a SAF estrelada vem sendo gerida como o futebol brasileiro dos tempos mais caricatos.
Semanas atrás, Pedro Lourenço afirmou que houve muitos erros em contratações e por isso havia cobrado o CEO Alexandre Mattos. A declaração pode ser vista como uma manifestação espontânea, até mesmo extrovertida, de alguém que recém iniciou no mundo do futebol, mas na verdade também sublinha exatamente a falta de critérios.
Contratado em fevereiro, o técnico português Leonardo Jardim já chegou necessitando aparar arestas e resolver perrengues que não eram seus: ao mesmo tempo em que precisava implantar seu trabalho, também se viu tendo que dar um jeito de acomodar os badalados reforços contratados. Acontece que os nomes de peso que chegaram, como Gabigol e Dudu, obviamente com trajetórias vencedoras, já não transmitiam a certeza de repetir seus melhores desempenhos.
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Ao colocá-los no banco de reserva, com razão, o técnico provoca um inevitável constrangimento. Talvez motivado pela urgência de retomar as jornadas mais gloriosas do clube, especialmente após anos recentes tão amargos, o dono da SAF cruzeirense tenha sido atraído por uma receita bastante conhecida pelo futebol brasileiro, empilhar jogadores de renome e torcer para que o papel entrasse em campo. Como estamos vendo, não entrou.
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E a herança dessa estratégia pode ser absolutamente prejudicial, não apenas para a temporada. O Cruzeiro hoje protagoniza vexame atrás de vexame. Após três jogos pela Sul-Americana, ainda não conseguiu pontuar em um grupo no qual, teoricamente, era incontestável favorito. Mesmo com uma folha salarial muito superior, alcança o pior desempenho das últimas quatro temporadas -- nos primeiros 18 jogos do ano, são 5 vitórias, 5 empates e 8 derrotas (37% de aproveitamento).
Pelo Brasileiro, as duas vitórias (contra Mirassol e Bahia) não disfarçam o desempenho oscilante. É evidente que o trabalho de Leonardo Jardim ainda não engrenou -- e não deveria ser algo desesperador, pois o técnico chegou apenas há dois meses. O que de fato causa preocupação, e até algum espanto, é o longo e equivocado processo que culminou nas fracas atuações de hoje: um técnico demitido no primeiro mês do ano, contratações caríssimas e um tanto aleatórias e a ausência de um projeto de futebol.