Eles têm anos de estrada, muitas idas e vindas ao futebol mineiro e já vestiram tanto a camisa alvinegra quanto a celeste. Mas amanhã estarão, pela primeira vez, frente a frente no principal clássico das Gerais. E não será apenas no campo que o (atualmente) atleticano Levir Culpi (foto) e o (atualmente) cruzeirense Vanderlei Luxemburgo estarão em lados opostos. O momento pelo qual atravessam as equipes faz com que os treinadores adotem discursos antagônicos, embora, no fundo, o objetivo seja o mesmo: motivar seus jogadores.

Preocupado com o oba-oba exagerado em cima dos últimos resultados/apresentações do Galo, Levir Culpi quer os atletas com os pés bem fincados no chão, repetindo, como um mantra, frases do tipo “não ganhamos nada ainda, o campeonato está apenas no início...”. Cada boa atuação atleticana é seguida por uma ressalva. Há sempre um porém, um contudo, ou um entretanto nas análises do comandante.

Já Luxa chegou ao Cruzeiro com a missão de sacudir o grupo, abatido com as quedas da equipe no Campeonato Mineiro e na Copa Libertadores e o início ruim no Campeonato Brasileiro. Por isso, foi logo dando o recado: “o céu é o limite”. A primeira entrevista do técnico em seu retorno à Toca depois de 11 anos foi quase uma cartilha de autoajuda, bem na linha do “sonhar não custa nada”. Luxemburgo quer fazer com que os jogadores acreditem em seu potencial e resgatem o bom futebol, que apareceu apenas em lampejos nesta temporada. Ele rechaça o título de mágico, mas alimenta a esperança da torcida com metas nada modestas. “Depois de chegar lá na parte de cima da tabela, por que não sonhar com o tri?”, perguntou, em sua apresentação.

Apesar de lançar mão de táticas tão diferentes, Levir e Luxemburgo têm experiência de sobra para saber o caminho a trilhar. No linguajar do futebol, são “raposas velhas”, e o animal aqui nada tem a ver com a mascote cruzeirense. Nenhum dos dois está errado. Por terem vivenciado todo o tipo de situação no futebol, eles sabem a hora de morder e a de soprar. Há momentos em que é necessário baixar a bola do grupo – é o que Levir está fazendo no Galo. Mas também há ocasiões em que é preciso afagar o ego dos atletas, para que eles consigam até ir além do que são capazes de mostrar – essa é a ideia de Luxemburgo.

O Atlético tem mostrado um futebol eficiente, é verdade, mas a linha de chegada do Campeonato Brasileiro ainda está muito longe. Até que a competição chegue pelo menos à metade, é necessário uma dose extra de parcimônia antes de alimentar qualquer expectativa.

Já o Cruzeiro não tem jogadores do nível de outrora, isso já foi cantado e decantado. A diretoria paga o preço por ter se desfeito (e aqui não vamos entrar na seara da necessidade financeira, é apenas uma avaliação qualitativa) de seus principais jogadores. Como o time não encontrou o encaixe, é preciso muita luta para compensar as adversidades, como já frisava Marcelo Oliveira. Quando não vai na técnica, tem de ir na vontade, nas divididas, na luta pela bola. Quando falta técnica e determinação, aí a receita desanda mesmo.

Antes de atacar a parte técnica, Luxemburgo está com a mira voltada para o aspecto emocional. Sabe que precisa instigar um espírito vencedor no grupo, e, vamos combinar, ele é bom de lábia. Até que tenha tempo para treinar, será na base da conversa mesmo que terá de influenciar os atletas celestes.

Amanhã, o pragmatismo e a utopia estarão frente a frente no Horto. Vamos ver quem vai levar a melhor.