Na contagem regressiva para voltar aos gramados, o meia Vitinho, promessa de 20 anos do Cruzeiro, precisou lidar com mais um desafio na carreira após sofrer uma lesão muscular de grau 3 na coxa direita na derrota para o São Paulo, pela 26ª rodada do Brasileirão, em setembro. Mas, apesar do baque no momento em que ganhava espaço na Raposa, nem de longe se compara ao drama que viveu com a mãe ainda na infância e que moldou toda a sua trajetória dentro de campo. Os primeiros passos de Vitinho no futebol foram nas ruas do Costa e Silva, bairro de Campinas, onde foi criado. Logo chamou a atenção e foi chamado para um período de testes no Santos. Foi quando a mãe Michelli Amorim sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) na presença do filho, ainda criança. - Ela sempre me acompanhou no futebol, estava ali me apoiando e me ajudando. Ela sofreu o AVC quando eu tinha de oito para nove anos, na minha frente. Foi quando eu pensei em parar e largar tudo, mas hoje eu olho como uma motivação. Ter passado esse momento difícil do lado dela, mas agora podemos aproveitar de momentos bons. É tudo por ela - conta Vitinho, em entrevista exclusiva ao Globo Esporte. Com saudades da mãe, que permaneceu em Campinas, Vitinho desistiu de ser um “Menino da Vila”. Foi quando uma nova oportunidade surgiu e bem mais próximo da família: um teste na Ponte Preta. - Eu cheguei na Ponte com 11 anos e fiz toda minha base lá até chegar ao profissional. Sou muito grato ao clube. - A Ponte Preta percebeu que ele era diferenciado. Eles me chamaram, ligaram para a mãe dele e assinamos o primeiro contrato para ele ser federado – recorda o tio João Carlos.

A ida para o Cruzeiro Durante a Série B de 2022, sob o comando de Hélio dos Anjos, Vitinho recebeu duas oportunidades como profissional da Ponte Preta. Ele entrou nas últimas rodadas da competição, diante de Criciúma e Náutico, mas não seguiu na Macaca na temporada seguinte. No início de 2023, foi apresentado como reforço do Cruzeiro para a Copinha e deu os primeiros passos em sua trajetória em Belo Horizonte. - Muitas pessoas não entenderam e perguntaram se valia a pena trocar o profissional pelo sub-20, mas eu fiquei muito feliz com a oportunidade e consegui chegar ao profissional aqui também. Eu agradeço a Deus pelas pessoas que me ajudaram, como é o caso do Hélio dos Anjos que me deu muita moral. Hoje está sendo concretizado tudo o que ele me falou na Ponte Preta. Depois da Copinha, Vitinho acabou promovido ao profissional, mas só começou a ter oportunidades após o início do Brasileirão. E soube aproveitar. O garoto disputou 21 jogos, acumulando um gol e uma assistência. - Desde quando eu cheguei, consegui uma temporada muito boa no sub-20, com títulos e conquistas individuais. Ainda joguei a Copinha desse ano, subi para o profissional e espero continuar com o trabalho - contou Vitinho.

A lesão sofrida contra o São Paulo assustou. O meia admitiu que passou um filme justamente em sua primeira oportunidade como titular na equipe. - Eu estava muito feliz porque foi minha primeira oportunidade como titular. Na hora da lesão eu fiquei desesperado e comecei a chorar. Você já começa a pensar que é sua primeira partida como titular e que poderia ter uma sequência a partir daquele jogo. Agora, Vitinho vive a expectativa de voltar a atuar nesta quarta-feira, contra o Lanús, a partir das 19h, no Mineirão, pelo jogo de ida das semifinais da Sul-Americana. O retorno de Vitinho aos gramados depois de pouco mais de um mês é aguardado pelos torcedores cruzeirenses e, principalmente, pela família de um jogador que nunca se intimidou com os desafios da vida. - É emocionante para a nossa família ver a torcida gritando o nome dele. Quando ele machucou o estádio inteiro estava gritando por Vitinho. Vejo tudo que ele passou e sei que não foi fácil. Ele nunca desistiu e se tornou um grande homem. Estaremos sempre vibrando e torcendo por ele – completa a prima Isabella Amorim.