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21/8/2014 13:00

Há 11 anos, Federação Mineira paga contas e salários com dinheiro vivo

Com contas bloqueadas por dívidas, entidade usa carro forte para transportar seus recursos. Nova administração inclui FMF em programa de recuperação fiscal

Há 11 anos, Federação Mineira paga contas e salários com dinheiro vivo
Prédio onde fica a Federação Mineira de Futebol, em Belo Horizonte, está penhorado (Foto: Lucas Borges)

Há pelo menos 11 anos a Federação Mineira de Futebol não pode movimentar contas em bancos, bloqueadas pela Justiça por causa de dívidas com o governo federal - são cerca de R$ 35,8 milhões, e a mais antiga delas data de 1963. Por causa disso, o prédio da entidade está penhorado e a federação só opera com dinheiro vivo - situação que está prestes a acabar.

A nova diretoria, que assumiu em 16 de junho, conseguiu incluir a entidade no Refis - programa de recuperação fiscal do governo federal, que permite o pagamento parcelado dessas dívidas. O desbloqueio das contas vai encerrar uma série de situações bizarras.

Um exemplo: no dia 17 de julho, o Atlético-MG derrotou o Lanús no Mineirão e ficou com o título da Recopa. Enquanto a torcida comemorava, um carro forte chegava ao estádio para buscar a parte da renda que cabia à federação - exatamente R$ 286.646,50, ou 5% da renda bruta.

O balanço de 2013 da FMF mostra que a entidade faturou R$ 13,3 e gastou R$ 13,2 milhões - teve superávit de R$ 117 mil no período. Graças ao bom ano de Atlético-MG (campeão da Libertadores) e Cruzeiro (campeão brasileiro), a federação faturou R$ 6 milhões só com bilheteria.

O dinheiro fica sob custódia de uma empresa de segurança até que a Federação precise pagar funcionários ou fornecedores. Aí um carro forte vai até o prédio da entidade e leva a quantia necessária.

Isso, claro, tem um custo, estimado em R$ 5 mil mensais. Em vez de o dinheiro estar num banco rendendo, está aos cuidados de uma empresa que cobra para guardá-lo. A circulação de dinheiro vivo no prédio da federação já levou a problemas graves. Em 2009, um assalto desfalcou a entidade em quase R$ 1 milhão. Três pessoas foram presas.

- Nossa primeira providência foi tentar acabar com essa situação, porque perdemos muito dinheiro com isso. Inscrevemos a federação no Refis e espero em até dois meses poder movimentar a conta de novo - afirmou o novo presidente da FMF, Castellar Guimarães Neto.


Castellar Guimarães Neto, 31 anos, é o novo presidente da Federação Mineira (Foto: Mauricio Paulucci)

Seu antecessor no cargo, Paulo Schettino, afirmou que nunca usou conta corrente durante sua administração para movimentar o dinheiro da federação. Schettino comandou a FMF por 11 anos, de 2003 a 2014, quando deixou o cargo por decisão da Justiça.

Antes dele, a federação era presidida por Elmer Guilherme, morto em 2011, mesmo ano em que fora condenado por sonegação fiscal. Elmer e seu pai, João Guilherme Ferreira, administraram a FMF de 1966 a 2003. Funcionários da atual e das antigas administrações não sabem dizer com precisão quando a entidade passou a operar apenas com dinheiro vivo. No mínimo, desde 2003.


Paulo Schettino comandou FMF por 11 anos
(Foto: Rafael Araújo / GloboEsporte.com)


- Nós não podíamos deixar o dinheiro em banco, porque ele seria tomado pelas penhoras judiciais. Então deixamos sob os cuidados de uma empresa de segurança, que nos cobrava 2% de juros pelo serviço. Algumas receitas nós recebíamos em dinheiro vivo, outras em cheque - disse Schettino.

Um levantamento feito pela atual administração encontrou contas pendentes com a União não pagos desde 1963. Schettino afirmou que as dívidas federais já estavam lá quando ele assumiu a federação, em 2003. E explicou porque nunca tentou pagá-las antes:

- Não dava. Porque nas oportunidades que tivemos, as condições eram muito desfavoráveis. Para você ter ideia, eu cheguei a estar com cinco ministros para tentar resolver isso e não teve como. Deixei dinheiro em caixa e as dívidas municipais e estaduais acertadas.

Schettino foi apeado da Federação por outro motivo. A Justiça acatou um pedido do Ministério Público de Minas Gerais, que entendeu ser irregular uma manobra feita por ele para esticar seu mandato até o fim de 2014. Dois interventores tocaram a Federação Mineira de janeiro a maio deste ano, quando houve uma eleição, vencida por Castellar Guimarães Neto, de 31 anos, ex-conselheiro do Atlético.

Guimarães chamou outros dois jovens advogados para tocar a federação: Adriano Aro, 34, é o novo secretário-geral, e Paulo Bracks, 33, o diretor-executivo do futebol. O trio evita fazer críticas a Schettino - apesar de ter que lidar todos os dias com a herança do ex-presidente.

ECONOMIA DE R$ 56 MIL EM UM MÊS

O trio que atualmente comanda a FMF encontrou outros problemas. Por exemplo: não havia controle sobre os gastos da instituição. Quando um funcionário fazia uma despesa qualquer, apresentava um recibo na boca do caixa da federação e era reembolsado.

A nova administração criou um sistema segundo o qual quem precisa de reembolso deve apresentar uma nota fiscal e explicar o motivo do gasto. A liberação do dinheiro só acontece com a assinatura do presidente. Um mês após a implantação desse sistema, a federação economizou R$ 56 mil em despesas com combustível, táxi, estacionamento e material de escritório.

- Não sei como estão fazendo hoje, acredito que podem ter melhorado, porque sempre dá para melhorar. Nunca fui perfeito, posso ter cometido equívocos. Mas fiz tudo dentro da ética, da moralidade. Sou delegado de polícia e tenho orgulho da minha administração - disse Schettino.

1410 visitas - Fonte: Globo Esporte




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